domingo, 9 de agosto de 2015

09/08/2015                                                      DESIDENTIFICAÇÃO

Dia dos pais me é quase indiferente. A não ser por ter visto no Facebook a comovente fotografia de um pai com óculos enormes. Tão grandes quanto a dor da saudade de quem postou a fotografia. A não ser por ter visto no Facebook um pequeno texto poético sobre um pai que à noite, enquanto dirigia, costumava deixar a luz interna do carro acesa. A gente é indiferente, é uma data comercial, mas talvez por sermos seres de linguagem, imersos no simbólico, alguma coisa nos fisga e cutuca a memória com vara curta. Então lembro que meu pai que morreu aos 45 anos, era defensor da ideologia comunista e que isso deixou em mim marcas identificatórias pelas quais sou grata. Doutor Joaquim, era esse o nome dele, era avesso a celebrações inventadas pela sociedade de consumo. Neste dia, aceitava de bom grado um presente que fosse um desenho, uma redação, um poema, uma pintura, um trabalho com as artes. Nem pensar mercadoria comprada em loja, invenção perversa do capitalismo.

Me ponho a pensar sobre as marcas identificatórias pelas quais sou grata, imaginando o que estaria Doutor Joaquim a dizer sobre o grave momento político que vivemos. Se eu acreditasse que existe céu e se por lá ele estivesse, teria ficado muito feliz ao ver há poucos meses atrás, os socialmente desprivilegiados como ele fazia questão de ser (assumindo suas origens na negritude e, sectário, recusando-se a ter consultório particular ao qual só tem acesso a elite ), podendo circular livremente nos aeroportos desfrutando das viagens de avião. Meu pai ficaria muito feliz com o sistema de cotas nas universidades, com o povão tendo acesso a moradia, a bens e serviços como qualquer cidadão tem direito a ter. Outra vez, sectário, torceria um pouco o nariz para o governo do PT por achá-lo reformista e populista, fazendo alianças amplas demais com setores progressistas da sociedade que defendem as liberdades democráticas mas não se interessam em empreender a revolução socialista. Provavelmente diria que o momento crítico em que está mergulhado o governo seria o resultado desse equívoco do PT.

Penso que as marcas identificatórias produziram em mim vieses que comprometeram ou pelo menos retardaram que eu chegasse à compreensão que tenho hoje do momento político que atravessamos. Na adolescência, fui militante de uma radical organização clandestina de esquerda. Na juventude, preferi não estar à frente do movimento político e não assumi cargos de direção. Participava do movimento estudantil na luta contra a ditadura, simpatizando com as posições do PCdoB. Na maturidade, ("ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais") talvez por as marcas identificatórias terem se tornado mais incisivas e também por falta de informações fundamentadas e consequentes,  por um longo tempo, torci o nariz para o PT a partir do momento em que assumiu o poder.

Achava que o presidente Lula não estava tão à esquerda quanto eu gostaria. Algumas vezes preferi votar nulo do que votar num partido que na minha opinião fazia alianças muito amplas, defendendo propostas reformistas e populistas que não lidavam com as raízes das contradições da classe trabalhadora, contentando-se com lhe oferecer melhores condições de vida, retardando a marcha para a revolução comunista. Pelo que eu via, o governo do PT não lutava radicalmente contra os interesses das elites privilegiadas. Na verdade, eu estava repetindo o discurso que supunha que meu pai teria, se aqui estivesse. Um discurso anacrônico. Isso eu não percebia.

Foi o meu contato com setores das classes dominantes que me fez mudar de opinião. Desde que o PT assumiu a presidência da república, eu fui vendo um tamanho rancor pelo governo por parte da classe dominante e de setores da classe média alta que só aspiram ascender socialmente, que pouco a pouco foi caindo a ficha. As contradições entre a classe dominante e os oprimidos são tão agudas, que o mero fato de os desprivilegiados terem tido acesso a melhores condições de vida, enfurece os poderosos gerando neles e naqueles que neles se espelham uma ira descomunal. Ouvi de uma psicanalista respeitável, a quem muito considero, que depois do bolsa família "esse povo" não quer mais saber de trabalhar. São uns desocupados. Nas palavras dela.

 Escutei no consultório alguém dizer que agora já não dá nem gosto viajar de avião. Qualquer hora na sua poltrona ao lado tem um preto.De outra psicanalista que confunde igualdade de direitos defendida por Marx com a natural diversidade subjetiva defendida por Freud e Lacan e que eu defendo também, escutei que não cabe defender igualdade de direitos porque os sujeitos são diferentes por estrutura. Em outras palavras, quem nasceu pobre tem que se conformar em ser pobre e que não se atreva a reivindicar direitos. Ouvi muitas coisas como essas até compreender que numa sociedade em que a luta de classes é tão acirrada, não dá para se pensar em de uma hora para outra se fazer a revolução. Mesmo porque os tempos agora são outros e é preciso se pensar qual transformação na estrutura da sociedade é necessária e cabível fazer. Finalmente compreendi que alcançar melhorias significativas na educação, na saúde, na moradia, nas condições de trabalho aliadas à preservação das liberdades democráticas, num país como o nosso já é um avanço enorme.

O divisor de águas entre a Marcia revolucionária incendiária  e a Marcia progressista que apoia o projeto do governo de preservar as liberdades democráticas promovendo melhores condições de vida para os desprivilegiados, foi a Copa do Mundo. Entendi que o governo ainda que a passos lentos, estava mexendo nas contradições sociais, ao ver que a elite conservadora chegou ao cúmulo de abrir mão de seu gosto apaixonado pelo futebol para sabotar o trabalho da presidente da república e de seus aliados. De lá para cá não me tornei petista, (por enquanto me reservo o direito de me manter à parte de filiação partidária) mas apoio o projeto de governo da presidente Dilma assim como apoiarei Lula se vier a se candidatar.Um Brasil livre com pleno respeito aos direitos humanos e com garantia de igualdade sócio- econômica-cultural vai sendo aos poucos construído. Se a direita rancorosa vocifera enfurecida contra o pouco que já foi conquistado, imaginem o que não seria se quiséssemos dar um passo para além do que as condições propiciam.

Assisti ontem na casa de uma amiga (muito generosa e excelente anfitriã) uma palestra do historiador Leandro Karnal sobre Hamlet no Café Filosófico. Com um jeito de sábio cínico um tanto niilista, entre muitas coisas interessantes que disse, quando falava sobre o que diria Hamlet na contemporaneidade, Karnal falou com um certo escárnio que só os que querem se sentir felizes podem sustentar o engano de que a corrupção está circunscrita a apenas um partido. Esses mesmos que se querem felizes propagam que é preciso exterminar um partido para exterminar a corrupção. Segundo ele, a corrupção começa quando o seu carro anda no acostamento, quando numa aula de ética alguém assina a lista de presença pelo colega faltoso. Começa muito antes de qualquer partido ser acusado de corrupto.

Acho lamentável que haja pessoas do PT envolvidas em processos de corrupção e acho que tendo primeiro assegurado o seu direito de defesa, os considerados culpados devem ser punidos. Diga-se de passagem, considerados culpados por um judiciário imune a pressões ideológicas da mídia vendida aos interesses dos poderosos. Não quero ser ingênua e me deixar contaminar pela campanha caluniosa e sensacionalista da rede Globo e outros órgãos de propaganda  contra o governo, cujo visível propósito é desestabilizar o estado democrático com vistas a tornar viável um golpe de direita. O PSDB nada tem a oferecer de bom ao nosso país. Não estamos numa conjuntura política semelhante a 1964. Os tempos são outros. A ditadura foi derrubada e não voltará, graças ao preço pago por inúmeros brasileiros patriotas. Brasileiros patriotas como eu, como você, cujas memórias estão prontas a testemunhar o horror que foi a ditadura militar. As manifestações propostas pelas forças reacionárias para acontecerem no próximo dia 16, não contarão com a minha participação nem a de milhões de brasileiros que querem contribuir para um Brasil livre e democrático.
                                                                                                                                Marcia Gomes. 

domingo, 2 de agosto de 2015

02/08/2015                                                             ESCREVER                                  

Agosto é chamado de "mês do cachorro louco". Acho que é em São Paulo, nas suas idiossincrasias climáticas, que o vento uiva, vocifera como um cachorro acometido de hidrofobia, no mês de agosto. Agosto, mês que anuncia, inclemente, que mais da metade do ano já se passou e que estamos mais velhos, sem que necessariamente nossos projetos estejam se cumprindo. Meu projeto de publicar algumas crônicas domingueiras. Bem poucas. Aquelas que repercutiram melhor no cotidiano dos leitores. Aquelas sobre as quais mais leitores me escreveram comentando, ou disseram que me ler fez alguma pequena diferença nas suas vidas. É muito gratificante saber que alguns mais generosos me leem. Alguns mais sensíveis, talvez, adivinhos de que em mim uma subjetividade clama por se fazer presente numa interlocução com o outro, mesmo sabendo que interlocução não há e que o outro é mera suposição.

Acho que àqueles que apraz escrever, mesmo que como eu, não tenham exatamente talento literário, não sejam escritores, há o gosto por inventar uma interlocução possível com um outro suposto, que se deixa entrever por detrás do traçado percorrido pela pena. Cada vez que se toma a pena, sem saber a quem se dirige, sem saber a quem vai tocar, quem escreve sabe que constrói um interlocutor sem substância palpável, que serve para mitigar a dor de existir. A não ser aqueles autores de obras comerciais como a literatura de auto-ajuda, quem escreve não sabe para quem escreve. Não sabe a quem vai agradar, não pode escolher a quem endereçar o seu texto, oscila na corda bamba sem qualquer garantia. Escrever talvez seja o ato que melhor represente a angústia de ser montado, tomado pela linguagem, açoitado por ela, mergulhado no buraco negro de se arriscar sem eira nem beira, tendo como alento, como anteparo para a angústia, somente um leitor criado pela invencionice do faz de conta. Quem escreve o faz para um leitor que não tem rosto, um leitor criado para dar conta da solidão que é não saber nunca o que o outro quer.

Quem poderia dar conta de responder por quê numa tarde de sábado, ao invés de ir ao cinema, ir ao shopping, ir encontrar com amigos ou mesmo estudar, preparar um trabalho, arrumar a casa, eu escolho, por um certo tempo, escrever e enviar o meu texto para um número razoável de leitores que são meus amigos e/ou meus colegas, nos quais não penso quando componho meu escrito? Não penso em ninguém em particular no sentido de ser destinatário do meu texto, enquanto escrevo. No entanto, depois de enviado, o escrito passa a pertencer a quem o recebe, cuja leitura me importa muito. Gosto de saber que a leitura do meu texto tocou alguém, fez alguém ter alguma experiência estética, aprender sobre a vida, repensar algumas questões, concordar, discordar, ou que alguém simplesmente ficou sabendo de mim.

 Gosto de contar sobre mim por escrito. Por que? Para que? Não tenho resposta. É mistério. Só sei que desde que me entendo por gente gosto de escrever e levo isso a sério. Estou me lembrando agora que na quarta-feira passada, encontrei uma colega que raramente vejo, no Centro Médico Itamaraty. Ela me disse que lê minha crônica domingueira e falou : "você anda lendo Valter Hugo Mãe, não é?" Fui tomada de um contentamento muito singular ao ouvir aquela pergunta. A pergunta dava conta que a colega me leu. Fui tomada também por uma vergonha, um pudor, quase uma culpa, porque entabulamos uma conversação muito tímida sobre Valter Hugo Mãe, já que no momento da conversa eu sentia forte dor no corpo, não podendo ficar muito tempo de pé, razão pela qual tive que abreviar o nosso promissor bate papo. Mas registrei que ela me disse que aquele autor escreveu um livro intitulado "A desumanização".

Na quinta-feira encontrei no shopping com outra colega que havia me escrito no domingo dizendo ter ficado tocada por meu texto. Ao me encontrar, ela teve o cuidado de perguntar se eu estava melhor da dor, e voltou a me dizer que mesmo escrito com dor, meu texto era bonito. Fiquei muito contente. Um poeta que considero ter o estatuto de um Carlos Drummmond escreveu e dedicou um poema a mim, a propósito do meu texto de domingo passado. Isso me deu um contentamento enorme. Gosto de responder a todos que me escrevem comentando meu texto. Sinto alegria de saber que meu escrito foi lido e tocou alguém de algum modo. Evidentemente deve haver muitas pessoas que não gostam de me ler e por isso, não me escrevem dando qualquer retorno. Assim como há as que leem, mesmo que não me escrevam.

Nesses tempos em que estou muito maltratada pelo problema na coluna de difícil solução ( não quero me submeter a uma cirurgia e minha dor é refratária a medicações e tratamentos alternativos), escrever tem sido fundamental. Em geral, por causa da dor, fico indisposta para conversas muito longas. Enquanto que posso ficar mais livre quanto à hora que escolho escrever, e fazer pausas para descansar da dor. Talvez escrever seja um estratagema para burlar a morte que nos espreita. Escrever tem algo a ver com estar na vida, ainda que a falta de garantia soe um pouco a um salto mortal. Quem sabe um salto mortal circense com rede de proteção? Quem sabe a rede de proteção não é esse outro que inventamos como interlocutor? E por que, no ato da escrita, a um outro encarnado com rosto e corpo, preferimos o outro inventado? Não será este outro inventado mais alentador, por sabermos que na confrontação com a morte estamos absolutamente sós?

Por coincidência, depois da conversa com minha colega sobre Valter Hugo Mãe, pude compartilhar no Facebook uma entrevista desse escritor tão interessante, falando justamente do seu livro "A desumanização". Na entrevista (WWW.FRONTEIRAS.COM)  ele cita um escritor tcheco que vive em Portugal chamado Jorge Listopad que disse : "quem não morreu está a morrer". Pude ler esta frase como estamos todos fadados à morte. Se alguém não morreu ainda, está a morrer pela inexorável passagem do tempo. Mas, de certa forma, o ato de escrever não suspende a passagem do tempo? Escrever é eternizante?
                                                                                                                       Marcia Gomes.                       


segunda-feira, 27 de julho de 2015

26/07/2015                                           FIAPOS

Fiapos esparsos desajuntados na tessitura do não pode ser. Fiapos dispersos, tecido abortado porque a dor concebe, mas precocemente torna-se sangue hemorrágico, filho perdido, escritura frustrada do parto bem sucedido. Fiapos de sangue do paulatino estancar da hemorragia resultada em filho nenhum. Filho nenhum porque não posso escrever. A dor devasta o corpo e o transforma num disforme esgar de nada. Corpo esgarçado de dores lancinantes, é somente uma narcísica escritura do impossível de se escrever. O investimento no mundo externo é uma inviável e congestionada rua de mão única que redundante, retorna sobre si mesma. A dor se esparrama por todo o corpo que sobre ela se debruça sem mais nenhum investimento. Sobre ela se debruça o corpo como sobre a própria imagem se debruçou Narciso, prisioneiro suicida da própria imagem. A dor só vê a si mesma e de tudo o mais faz espelho.

Logo hoje, que tentando driblar a dor do corpo tentei me entreter com poemas de nome "Colheita" que me foram presenteados pelo estimado Professor José Newton de Sousa, seu autor, num momento em que mais me doía a alma. O querido Professor José Newton, pai de alguns poetas, escreve dizendo coisas tais como "A beleza vale mais que a exatidão". Ele é um inexato radar do mundo sensível, captando como um requintado e inocente esteta, tudo o que escaparia ao olhar comum do passante desavisado. Assim ele fala nos seus versos da paisagem do Cariri, de peculiares tipos humanos que passaram por sua vida, de saudades e nostalgias do exilado, da alegria pela primeira e segunda filha e pela chegada do Natal, e muito apaixonadamente do seu amor à sua amada e a Deus. O Professor é um cristão de primeira ordem. Mas os seus singelos versos conseguem me entreter sem de mim se apoderarem, porque de mim só se apodera a dor na coluna. Hoje mais aguda. Talvez porque a Sul América não autorizou o procedimento de bloqueio da dor ao qual me submeteria. Talvez porque hoje me veja confrontada com a possivelmente imperiosa necessidade de mudar de casa. O comércio imobiliário pode às vezes ser impiedoso, pouco ligando para o amor à sua casa de uma senhora que mal se locomove, de tanta dor.

Logo hoje, que tenho na mão esquerda uma tesoura de corte incerto. Uma tesoura cega. Vejo que às apalpadelas, na penumbra que acomete os cegos, ela vai, certeira, passando de través pelas palavras e cortando aqui e ali, como uma mão decepada de artesão que embora amputada, preserva intactas as terminações nervosas e monstruosa, concebe a obra ímpar, de beleza assombrosa, um Narciso que, ao invés de suicida, debruçar-se sobre a própria imagem, belo, devolve ao outro a si mesmo, perpassado das perplexidades que lhe dá o tempo que passa e não passa, das cândidas alegrias do cotidiano contidas em um assovio, e, do peso do amor, pesando sete grãos de chumbo. Em breve vocês saberão o que é essa tesoura cega e compreenderão. Compreenderão como a dor do corpo pode ser desapontadora sabotagem poética que nos impede a fruição da beleza tão bem cortada às cegas, dessa tesoura guiada por um cão com faro de gênio.

Logo hoje, que mal conseguindo levantar da cama, ao acordar me dei a pensar no escritor valter hugo mãe que escreveu "a máquina de fazer espanhóis". Ele não abre mão das minúsculas porque diz lamentar estar a escrita investida de uma certa enfatuação de disputa pelo poder. Também diz que fez questão de colocar "mãe" no seu pseudônimo, porque só as mulheres têm o privilégio de dar à luz, coisa que inveja. Sabendo que o escritor foi criado no meio de mulheres e que pouco conheceu de sua ascendência paterna, enquanto fazia malabarismos para levantar da cama, me pus a pensar com meus botões no que têm meus botões de encaixes em casas de Freud e Lacan. Já levantada da cama aos trancos e barrancos, pensei: que vão Freud e Lacan ver se eu estou na esquina. Porque valter hugo mãe de há muito passou pela esquina sem deixar rastros. E, como bem disse Freud, a poesia antecede a psicanálise. Então, de nada vale querer psicanalisar um pseudônimo. Quanto mais um escritor. Isso só pode nos render a perda de caras amizades.

Logo hoje, que não fosse essa dor insuportável que não me dá trégua ( o remédio que eu tomo para mitigá-la se chama Lyrica. Às vezes me ponho a cismar com esse nome poético. Pois é. Me ponho a cismar com o nome, para não jogar o remédio fora. Além de ser muito caro, não diminui a dor em nada), eu tentaria assistir de novo uma aula sobre topologia na clínica de Lacan para ver se apreendo mais um pouco do que o palestrante quer dizer quando afirma que Freud ficou circunscrito à física newtoniana, enquanto Lacan avançou para a física quântica, daí a necessidade de conceitos topológicos. Um grupo de colegas no qual eu estou incluída, através de mim convidou um físico que publicou recentemente um livro sobre Física Quântica, para falar para nós. Já pensaram se o dia for um "logo hoje"?

Logo hoje, que tomar um banho é um sacrifício e que embora goste muito, eu até fique pensando nas desvantagens de morar sozinha, logo hoje, que nem de longe posso pensar em sair de casa, assistir televisão, ler para preparar um trabalho que vou apresentar sobre o "Estado Amoroso" nas suas articulações com o narcisismo, logo hoje que sinto dor de artrose degenerativa com total obstrução dos nervos, eu escrevi um texto intitulado "Fiapos". Fiapos de dor num emaranhado que não me  permite tecer coisa alguma, ainda que fique alegre. Alegre, porque enquanto houver poesia, não há por quê deixar de lado o tear.
                                                                                                                            Marcia Gomes.  

domingo, 19 de julho de 2015

Olá, colegas e amigas (os) leitores,

Estou enviando abaixo o link do documentário "A Família de Elizabeth Teixeira" gentilmente cedido por um amigo. O documentário foi filmado também por Eduardo Coutinho, trinta anos depois de "Cabra Marcado pra Morrer", filme sobre o qual escrevi no domingo passado. Só para lembrar, "Cabra Marcado pra Morrer" é a história de João Pedro, um líder camponês paraibano que foi cruelmente assassinado pelos latifundiários em 1962. Comentei sobre esse filme e o sofrimento da viúva Elizabeth Teixeira, porque estou indignada com as investidas de setores da direita reacionária no sentido de estimular um retrocesso político de graves proporções como um golpe militar, tomando como pretexto o fato de estarmos vivendo um momento de crise política e econômica. No documentário abaixo, Eduardo Coutinho reencontra Elizabeth Teixeira com mais de 80 anos e faz contato com seus filhos e netos. O filme vem mostrar que o assassinato de João Pedro junto com a perseguição política à sua viúva a partir do golpe de 64, tiveram desdobramentos dramáticos sobre a história daquela família, que estão presentes até os nossos dias.

Se você tiver interesse em ler as minhas crônicas de domingos anteriores, é só acessar o blog: blábláblazista.blogspot.com.br    . Do blog constam escritos desde 2012. Alguns dos textos têm um cunho predominantemente autobiográfico, nos quais me exponho muito às vezes. Foram escritos para um público seleto de amigos e colegas, por uma necessidade de partilhar com vocês algo da minha subjetividade, sem pretensões literárias. Não sou escritora. Sou "escrevinhadora". Gosto de "escrevinhar". Quem sabe, em algum momento, eu possa fazer uma seleção dos textos menos ruins que estão no blog e publicá-los? Por que não?
                                                     Um abraço,
                                                                        Marcia Gomes.

19/07/2015                                                                 DESENCADEIRA

Penso sobre o quê escrever. Poucas coisas me ocorrem. Penso com muita alegria que falei com Leandro ao telefone a título de despedida. Leandro é meu sobrinho cineasta que ganhou um prêmio com seu talento, e vai morar na Alemanha. Ele gosta de ler minha crônica domingueira e eu gosto de saber o quanto ele é bem resolvido para viver suas questões pessoais do modo que prefere. Penso também que estou felicíssima porque Íris Gomes,  Iroca, minha sobrinha, esteve defendendo sua tese de doutorado na UFMG e foi aprovada com louvor. Torço por ela e sinto orgulho do quanto é capaz. Fico muito satisfeita de saber que várias sobrinhas  ( Lívia, Luciana e agora Íris) são doutoras brilhantes. Mas não precisam ser doutores para cair nas minhas predileções. Daniela, minha sobrinha mais velha, não enveredou por uma carreira acadêmica e é muito capaz. Tenho um orgulho enorme da minha "filhota", principalmente por seu caráter e coragem para lidar com adversidades. Penso também em Rafa (outro doutor brilhante), vivendo com entusiasmo a visita de Carolina, sua mulher e o filho João, neste mês de julho em Porto Seguro.

Não quero escrever sobre filho e sobrinhos. Poderia sair um texto muito narcisista. Também não quero voltar a bater na tecla das investidas golpistas da direita. Se falasse sobre isso, sairia um texto muito indignado. Hoje não quero ser narcisista nem indignada. Desconfortável com a falta de assunto, vou até meu quarto de estudos que há tempos não uso, porque está uma bagunça. Virou também depósito de coisas que estão fora de combate. Por isso tenho lido e estudado mais na sala. Olho para minhas estantes de livros com um prazer nostálgico. Penso que tenho lido pouco por conta das dores na coluna. Sem me dar conta, muito sem querer, desloco o olhar dos livros para uma cadeira comprada em São Paulo, que me acompanha desde 1980. É uma cadeira forte. Apoia-se em hastes tubulares em ferro resistente, tendo encosto e assento em couro cor de vinho. O seu modelo é de uma robusta cadeira de diretor de cinema.

 Penso em tudo que vivi sentada nesta cadeira. Nela escrevi minha dissertação de mestrado quando estudava na USP e morava no Butantã. Quando estudava na USP e morava no Butantã, eu era uma jovem de vinte e tantos anos, deslumbrada com o behaviorismo, tomada de rompante pelos arroubos do amor, e encantada com a cidade de São Paulo. Ouvia muita música de Paulo Vanzolini, frequentava assiduamente o burburinho cultural da Paulicéia Desvairada, indo a restaurantes, shows, concertos, peças de teatro, museus, exposições, cinemas, etc, num frisson voraz de quem quer se apoderar de toda a arte produzida pela alma da cidade. Sentada na cadeira escrevia num diário as minhas impressões sobre tudo que vivia com entusiasmo. Ocupava grande parte do escrito a dizer da minha rica amizade com um escritor que me apresentou o poeta Cesar Vallejo e me levou ao sítio de Hilda Hilst. Pois é. Sentada na cadeira escrevi sobre meu tímido e perplexo encontro com Hilda Hilst. Com Caio Fernando Abreu ("Tenho um dragão que mora comigo...."), com Lygia Fagundes Teles.

Sentada na cadeira escrevi sobre a devastadora dor de ter que perder meu emprego de professora da Ufba e por isso não ter podido defender minha dissertação. Escrevi sobre muitas alegrias e dores de amor. Muitas. Escrevi muita coisa sobre a campanha "Diretas Já" e sobre a transição da ditadura para a democracia. Escrevi sobre o pesar do Brasil com a morte de Tancredo e sobre a inesquecível e última experiência de ver Elis Regina ao vivo, no seu show "Trem Azul". A cadeira saiu comigo do Butantã e foi à Avenida Angélica. Lá eu escrevi no meu diário sobre os muitos judeus que viviam no bairro de Higienópolis, com todas as suas idiossincrasias culturais. Passei com a cadeira pelo Sumarézinho onde lia cartas de amor escritas em papel azul, vindas da Alemanha, e escrevia sobre a emoção de receber de lá, doces dietéticos de marzipã trazidos por um eminente portador.

 Finalmente, forte como eu, a cadeira me acompanhou à Vila Madalena. Ficava no meu quarto na escrivaninha. Era uma casinha muito modesta, onde um enorme girassol brotava na calçada . A cadeira, companheira imbatível, me acomodou numa certa cumplicidade, ao escrever sobre a ternura cândida dos artistas e velhinhos aposentados que povoavam a Vila Madalena com suas ruas de nomes poéticos, como Fidalga, Harmonia e Purpurina. Quando soube que a Vila Madalena seria a minha última, derradeira morada em São Paulo, não sei como a cadeira suportou sem se quebrar, o peso devastador do meu choro convulso.

Aqui em Salvador, para onde me mudei, a cadeira, fazendo coro ao meu recolhimento enlutado, ficou por muito tempo também recolhida num guarda móveis. Lá, talvez maltratada e também pelo efeito da maresia, ficou com suas hastes enferrujadas. Refeita do luto, mas ainda sob o impacto das radicais diferenças culturais entre Salvador e São Paulo, em desabafo, muito escrevi sobre o padrão baiano dos atendentes em lojas e estabelecimentos comerciais. Estranhando e às vezes rejeitando os padrões culturais de Salvador, passei muito tempo sentada na cadeira refugiada na literatura. Quando já compreendia e aceitava melhor o padrão "preguiçoso" do baiano como um reflexo da resistência às rotinas oprimidas das senzalas, levei a cadeira comigo para a Federação, o Jardim Apipema e o Morro do Gato. No Jardim Apipema me acolhi no seu assento para escrever sobre novas descobertas e dores de amor e sobre o meu feliz encontro com a psicanálise. Não sei a razão ao certo, mas jamais mandei reparar a ferrugem de suas hastes. Ainda hoje, continua enferrujada. Deve ser por razões metafóricas. Na verdade, essa cadeira é minha testemunha.

Tanto quanto sua dona, a cadeira mudou muitas vezes de casa. Eu tenho um coração itinerante pouco afeito ao pouso? Não sei. Mas parece que finalmente estou pousada no Morro do Gato. Mas quem vai entender a alma defeituosa desses seres de linguagem que somos? Assim que pousei, não sentei mais na cadeira. Não a dou a ninguém. Não reparo sua ferrugem. Agora me lembrei do nome de um livro que gosto muito: ""As veias abertas da América Latina". A cadeira está aposentada no quarto de estudos e quase não olho para ela. Fica ali, depositária enferrujada de muitas lembranças que prefiro deixar quietas.  Uma cadeira, pode dizer bem mais do que suportaríamos. Envelheço e não recorro mais a ela. Já ressignifiquei muitas coisas.Parece que estou pacificada com a cidade de Salvador apesar do seu inverno sem céu azul claro, sem um friozinho seco que convide um fondue com um bom vinho, seu inverno pluvioso e destruidor de encostas. Estou pacificada com a cidade de Salvador, com o pulsar ritmado da sua corajosa negritude. Então prefiro sentar para trabalhar na sala. E a cadeira aposentada no quarto de estudos. Também dela não me desfaço. Melancolia? Talvez a ignore tentando silenciar as lembranças que em mim desencadeia. "Desencadeira". Muda testemunha de uma longa história. Para que sentar nela? Para que fazê-la falar?
                                                                                                                Marcia Gomes.

P.S. Abaixo o link do filme documentário.  




 A Família de Elizabeth Teixeira 
https://www.youtube.com/watch?v=TondnexDVUk









domingo, 12 de julho de 2015

12/07/2015                                    LUTO,  LUTA.

Hoje acordei sem vontade de escrever crônica. Apenas conto em poucas palavras uma experiência que tive ontem, dedicando esse relato a todos aqueles que foram vítimas diretas das atrocidades do golpe militar de 64, ou que tiveram familiares, amigos, companheiros, violentamente perseguidos, presos, torturados, assassinados e desaparecidos por defenderem um Brasil onde os direitos humanos fossem respeitados, onde respeitando-se a diversidade subjetiva de cada um, tivéssemos igualdade de direitos sócio-econômicos para todos. Dedico esse pequeno relato a todos aqueles que viveram ou ainda vivem o luto por seus entes queridos que nas condições mais adversas, jamais abandonaram a luta por um país mais digno. Se hoje tenho a liberdade de falar sobre essas questões, tenho uma enorme dívida de gratidão aos brasileiros que construíram a derrubada do golpe de direita que aconteceu em 64. Só de pensar que há pessoas falando em retrocedermos à época da intervenção fascista das forças armadas, tremo de nojo, tremo de horror.

Não vou escrever sobre política. Cada vez menos, gosto de tratar de política. Apenas exponho minhas opiniões para aqueles que compartilham comigo a simpatia companheira pelos inúmeros brasileiros que são ainda socialmente desprivilegiados, e sofrem a dor de serem discriminados, estigmatizados, por serem pobres, negros, mulheres, deficientes física ou psiquicamente ou até por serem idosos. Não entro em embates políticos. Talvez devesse até entrar, mas me sinto cansada. Acho que por trás dos argumentos que se colocam nas discussões, o que está em jogo são os interesses da classe social à qual pertence ou aspira pertencer aquele que está argumentando. Na minha modesta opinião, a defesa dessa ou aquela ideia nas conversas sobre política passa por uma questão ideológica de origem social que transcende argumentos. Vou escrever sobre a dor que por anos a fio atravessou uma família inteira.

Pois é. Ontem voltei a assistir no canal Arte 1, o filme documentário intitulado "Cabra Marcado para Morrer". O filme conta a história de João Pedro e sua família. João Pedro era um cabra paraibano casado com Elizabete, com quem teve vários filhos, num casamento harmonioso e de muito companheirismo. João Pedro, cabra de poucas letras, "malmente" sabia ler e escrever, era um camponês que trabalhava numa pedreira em um latifúndio. Muito religioso, temente a Deus, vivendo na pele as injustiças e atrocidades exercidas sobre os empregados pelos donos da terra, tornou-se líder numa associação de camponeses na luta por direitos sociais. Organizava seus companheiros para reivindicar melhores condições de vida. Em 1962 João Pedro foi violentamente assassinado com tiros num crime cujo mandante foi um latifundiário. Alguns meses depois, sua filha mais velha não suportando a dor cruel do luto, suicidou-se tomando arsênico.

Ainda antes do golpe de 64, a história da morte de João Pedro foi publicada nos jornais e pessoas se interessaram por documentar sua vida no filme "Cabra Marcado para Morrer", cuja rodagem foi iniciada. Elizabete, viúva de João Pedro, continuou na militância camponesa e chegou a ser filmada. Era uma mulher com a fisionomia tipicamente nordestina, com dentes faltando na boca e com um discurso ingênuo comovente, de quem, com poucos estudos, sabe lutar por seus direitos e não se deixa abater. Na falta de João Pedro, vivendo a dor da trágica perda de sua filha mais velha, criava seus muitos filhos com dificuldades enormes.

Com o golpe de 64 o assassino de João Pedro foi absolvido, a repressão apreendeu quase todo o material da filmagem dizendo ser subversivo, e Elizabete teve que ir para a clandestinidade, afastando-se dolorosamente por muitos anos de todos os seus filhos. Ficou refugiada com nome falso, tendo que viver a vida de uma outra pessoa, destituída do direito à sua identidade e à sua história.

Quando veio a abertura política muitos anos depois, visivelmente envelhecida pelo sofrimento que passou, Elizabete pode retornar às suas origens e o projeto do filme "Cabra Marcado para Morrer" foi retomado e levado adiante. Elizabete não conseguiu retomar contato com todos os seus filhos. Seus depoimentos no filme causam uma comoção profunda àqueles que assistem. Comoção profunda provavelmente somente àqueles que sabem na própria pele da dor de Elizabete, e que, independentemente das crises que nosso estado democrático atravesse, estão dispostos a lutar por anos de chumbo nunca mais.
                                                                                                   Marcia Gomes. 

domingo, 5 de julho de 2015

05/07/2015                                   DIVAGAÇÕES.

Divagações. De vaga sons. Sons de vagas. Sons de ondas às vezes tormentosas, às vezes amenas. De ondas tormentosas, o lamentável desfecho por enquanto da questão da votação da emenda de redução da maioridade penal. Unanimidade contra essa medida em todas as cabeças esclarecidas e pensantes deste país, incluindo Caetano Veloso e Gilberto Gil, tivemos que passar pelo constrangedor desconforto de, na mesma semana, vivermos primeiro a alegria de ver a tal emenda recusada, para apenas algumas horas depois, ficarmos sabendo que por manobras manipulativas e perversas do Senhor Eduardo Cunha e seus comparsas brancos e ricos, a emenda voltou a ser aprovada. 

Num primeiro momento, eu, muito feliz por ver que a emenda não passou, fiquei perplexa de ver na televisão o Ministro da Justiça argumentando ser contra a redução da maioridade penal por não haver vagas nos presídios. Fiquei pasma! Ainda que vagas houvessem, a questão é que reduzir a maioridade penal jamais seria solução para a necessidade da sociedade oferecer aos nossos jovens condições sócio educativas e culturais para que se tornem cidadãos de bem, ao invés de trancafiá-los em presídios. Quem de nós não sabe que com a aprovação dessa emenda sofrerão represálias repressoras os jovens desfavorecidos negros e pobres enquanto os branquinhos riquinhos e perversos se beneficiarão dos estratagemas desonestos para se manterem em liberdade usufruindo dos privilégios que o dinheiro compra? Quem de nós não sabe que a aprovação dessa emenda daqui a 10 anos só terá agravado o panorama de desamparo estigmatizante que vivem hoje os nossos jovens menores de 18 anos? Quem de nós não sabe que o que os nossos jovens e crianças precisam é de garantia de saúde física e emocional, de educação, de condições sócio econômicas dignas?

A desonesta aprovação desta emenda, fere mortalmente a dignidade de todos os cidadãos que trabalham e lutam para que nossas crianças e jovens vivam sob condições sócio emocionais mais justas e humanas. Mas nem tudo está perdido. Amanhã parlamentares que se respeitam vão entrar com mandato de segurança para anular esse vergonhoso resultado. Mas nem tudo está perdido. Pude ver pelo Facebook inúmeras pessoas se manifestando veementemente contra a redução da maioridade penal. Em resposta à arbitrariedade de Eduardo Cunha e seus seguidores, consciências se formam, pessoas se posicionam num movimento social que vai crescendo.

Mas a direita reacionária não nos dá trégua. "É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte." Desde que abandonei a militância na minha adolescência, política não é mais o meu forte. Não dou conta de acompanhar o noticiário, fico às vezes confusa quanto a que posições adotar, e me tornei muito mais flexível quanto a acolher opiniões diferentes das minhas. Mas fiquei estarrecida ao saber que estavam à venda e sendo propagados adesivos pornográficos misóginos de agressão à presidente Dilma, numa postura de violência sexual raramente vista. Um violento desrespeito a todas as mulheres brasileiras. Não vou aqui entrar no mérito se simpatizo ou não simpatizo com a presidente Dilma. Não é disso que se trata. Numa sociedade que se preza, discordâncias políticas se expressam com argumentos políticos. Não com adesivos pornográficos e sexistas. Isso deveria ser punido como crime. Isso é crime.Eu não simpatizo nem um pouco com a Rede Globo com seu noticiário tendencioso e sensacionalista e fiquei indignada ao saber que Maria Júlia Coutinho, que atua na Globo, foi vítima de discriminação racial. Quando se trata da dignidade humana é preciso que um valor mais alto se levante. Do contrário, é a barbárie.

E pensar que esses tristes episódios aconteceram na semana em que se celebra a Independência da Bahia. Temos muito o que fazer, temos que arregaçar as mangas para falarmos com propriedade em independência. A propósito, estou triste com os acontecimentos na Grécia, antes de tudo, para mim, berço de nossa tradição filosófica. Comecei a ensaiar preparar um trabalho sobre o estado amoroso e para isso estou lendo o Seminário 8 onde Lacan, de certa forma, faz uma homenagem a Sócrates. Uma bela homenagem, diga-se de passagem.

Divagações. De vaga sons. De ondas amenas a alegre notícia do lançamento em São Paulo, no dia 17 de junho, do livro do amigo e grande poeta Carlos Machado, que edita e envia para vocês o boletim poesia.net. O livro de poemas de Machado chama-se "Tesoura Cega". Título no mínimo instigante para os psicanalistas que são chegados a um corte. Não vejo a hora de poder ler "Tesoura Cega". Com certeza, uma excelente contribuição para a literatura do Brasil e do mundo. Na onda das amenidades, saber que a Flip está acontecendo em Paraty, desta vez em homenagem a Mário de Andrade. Ai que vontade de ter ido à Flip!!! Bom também saber que a peça de teatro "A Alma Imoral" voltou a estar em cartaz em Salvador. Assisti no ano passado. É um monólogo de grande qualidade. Recomendo. Tenho um amigo querido que trabalha com teatro que está indo hoje ao espetáculo pela quinta vez.

Nas amenidades da onda, pensar em meus sobrinhos e sentir alegria por eles. Quase todo dia, me comunicar pelo Facebook com a doce Daniela. Dani é o meu xodó. Minha sobrinha mais velha, desde que nasceu, faz as vezes de filha. É a minha filhota por quem sinto grande orgulho. Um contentamento grande de saber que meu sobrinho Leandro Goddinho que vive em São Paulo trabalhando como cineasta, ganhou um prêmio de cinema e está indo morar na Alemanha. Meu reencontro com Íris (Iroca), outra sobrinha querida, aqueceu meu coração e me deixa muito grata. Iroca, que não abre mão de correr atrás de seus sonhos, estará provavelmente defendendo sua tese de doutorado agora em julho. Já ouvi dizer que quando o diabo nos tira os filhos, Deus nos manda os sobrinhos. Que Deus não é de deixar ninguém desamparado. A mim, menos ainda. Que além dos sobrinhos me deu um filho. Hoje está chegando Rafael, meu filho adotivo. Vem para compor uma banca de doutorado. Deve chegar todo feliz da vida com a visita da sua mulher em Porto Seguro.

Pois é. Leitores, amigos e colegas. Ondas tormentosas, graças à truculência arbitrária de um Eduardo Cunha. Mas há os sobrinhos e os filhos, e há, sobretudo, a esperança de com divagações dar uma trégua, para ainda que devagar, mergulhar em ondas mais amenas, e, acreditar num futuro digno e promissor para  nossas crianças e jovens, e para todos aqueles que de alguma forma, trabalham para construir uma sociedade mais justa.
                                                                                                              Marcia Gomes.

domingo, 28 de junho de 2015

28/06/2015                                         AMÊNDOA.

O feriado de São João é de uma paz modorrenta. Não deixo de enxergar nisso a vantagem de ir ao supermercado sem atropelos, frequentar o cinema se me der na telha, sobretudo a vantagem de estar só sem o burburinho barulhento e constrangedor que às vezes estar com o outro nos causa. Só às vezes. Que não é toda hora que encontro prazer em estar sozinha. Com frequência o outro é muito, muito bem vindo e estar sozinha pode ser chato.

A data de São João me causa a vontade incontrolável de comer amendoim cozido. Amendoim. Ai, as palavras. Amendoim não por acaso começa como amêndoa. Amen doa. Amém doa. Amém dói em mim. E como às vezes dói, dizer amém!!! Dizer amém ao outro. Sim, você tem razão. Sim, vou fazer o que você quer. Sim, vou seguir sua prescrição até reduzir a nada meu desejo. Desejo aqui entendido como vontade.

 Fiquei muito feliz de jantar, no dia do meu aniversário, com uma prima e um amigo que muito gentilmente me deram o privilégio de escolher o restaurante por ser eu a aniversariante. Rimou. Também fiquei feliz naquela data, por ter recebido presentes tão a minha cara, que pareceu que eu os tivesse escolhido. Há alguns outros que com muita gentileza não nos deixam escolher nem de vez em quando. Às vezes, mesmo sem gentileza podem dizer sempre assim: "você é minha convidada, sou eu quem vai pagar e pronto". E a gente diz amém. Por se sentir em dívida? Não é por mal que as pessoas mesmo com delicadeza fazem valer o seu desejo esquecendo o desejo do outro. Na verdade elas nem se dão conta que estão fazendo isso.

 A gente é que permite. A gente é que as acostuma a pensar que não tem desejo para exercer. Às vezes elas pensam que seu desejo, por ser generoso, dadivoso,oblativo mesmo, deve prevalecer a qualquer custo. Felizmente há ainda verdadeiros amigos, aqueles generosos com muita sensibilidade, que quando a gente contesta, gentilmente cedem, evitando que o que seria um dom, vire uma quebra de braço, uma disputa de poder. Mas há também aqueles, que mesmo sendo amigos, sem perceber que estão fazendo isso, e movidos pelas melhores intenções, tentam com sua palavra  nos submeter a ferro e fogo. E quando a gente explode de tanto engolir sapo, perde a razão por estar sendo "mal agradecida" ou mesmo "agressiva". Na verdade a gente está equivocada quando explode. Tudo que a gente sabe sobre a dualidade sado-masoquista, deveria ser suficiente para nos fazer compreender que aquele que quer nos submeter, provavelmente foi cruelmente submetido na sua história de vida. Então a pessoa não se dá conta que está repetindo com a gente o que fizeram com ela no passado. Mas chega de interpretosas porque "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". O que importa mesmo, é saber, que a gente poder, de vez em quando, exercer o próprio desejo, é a maior dádiva que o outro pode nos fazer. Mas se nos falta jogo de cintura para fazermos as nossas escolhas, as pessoas que nos submetem não vão se dar conta disso nunca. Outra vez é nossa a responsabilidade de, de vez em quando, sabermos fazer valer a nossa vontade.

Mas enveredei por esse caminho do dizer amém por causa do amendoim, da amêndoa. Amendoim sabe a chão, a resíduo de terra na casca, sabe a forró, a Nordeste. Já a amêndoa lembra aquelas guloseimas com sabor de doceria européia que um namorado sedutor e de hábitos sofisticados nos presenteia. Já tive amores de hábitos sofisticados. Mas hoje queria mesmo era comer amendoim cozido com resíduo de terra na casca. Então saí à cata. Saí porque estava entediada, nauseada mesmo, de ter visto na televisão ligada por um instante, uma notícia sensacionalista e desrespeitosa sobre a morte por acidente de um músico sertanejo.

Não sei bem ao certo o que é música sertaneja. Acho que por meus vieses narcísicos intimistas, tendo a não me dar conta de coisas do cotidiano, infelizmente ignorando às vezes assuntos que rendem à maioria das pessoas motivos para uma boa conversa sem maiores pretensões, e que às vezes vale muito a pena. Padeço de não me sentir como a maioria das pessoas. Muito me consola a frase de Caetano Veloso "de perto ninguém é normal".

 Será que às vezes me sinto anormal de tanto que deixo o outro chegar perto sem lhe dar fronteiras? Será que me exponho muito para o outro e isso, ao invés de ser um gesto de coragem, é uma situação de risco que me deixa vulnerável? Há quem diga, e me criticando, que me exponho muito ao escrever esta crônica domingueira e que isso não pega bem para alguém que ocupa o lugar de analista. Mando a crônica domingueira muitas vezes de cunho autobiográfico para um público seleto de colegas e amigos, jamais para nenhum de meus analisantes (pacientes), com os quais não costumo me comunicar por E-mail. Mas será que os que me criticam ainda assim não estão com razão? Será que não exponho demais minhas divagações subjetivas?

Como não tenho como responder isso agora, voltemos ao amendoim. Peguei um táxi para procurá-lo mais ou menos nas imediações de casa. Agora divaguei e me veio à cabeça o receio de estar me expondo muito, ao escrever e pensar em enviar a meus leitores essa crônica domingueira, mesmo sabendo que pelo menos até amanhã, quinta-feira, quando vem o técnico, meu computador estará com vírus e isso me causou o maior problema no Facebook. Face. Dar o rosto pra apanhar? Me expor ou não me expor, eis a questão. Será que tenho tendências exibicionistas? Aplaco as divagações me dando conta que domingo, quando eu enviar a crônica, a virose do computador já estará curada. Se tenho ou não tendências exibicionistas é um papo que fica melhor eu deitada num divã. Então é melhor não divanear sobre isso aqui.

O melhor a fazer é voltar ao amendoim. Procurei-o em vão. Tinha acabado em todos os lugares perto de casa. Mas o desejo continuava aceso e sem nenhum Outro que pudesse inibi-lo. Então resolvi estender a procura para além das proximidades de casa. Peguei outro táxi e fui a um supermercado mais sofisticado em que as coisas não costumam faltar. Enquanto andava pela rua usufruía do tom bucólico da cidade deserta com tons invernais. Não seriam infernais se a cidade não estivesse deserta? Finalmente cheguei ao supermercado. Não havia amendoim nem cru nem cozido. Foi uma frustração sem tamanho. Quando já ia me retirando de volta e frustrada, bato o olho numa embalagem bonita onde estava escrito "amêndoa". Não contei conversa. Estava ali a minha saída sublimatória. Comprei a embalagem bonita, muito mais cara do que o amendoim que sabe a chão, a resíduo de terra na casca, a forró, a Nordeste.

 Chegando em casa abri a embalagem e saboreei a amêndoa como uma guloseima com sabor de doceria européia como se um namorado sedutor e de hábitos sofisticados me houvesse presenteado. Degustando a amêndoa, lembrei de Monte Verde, de Campos do Jordão. Lembrei da Europa, por que não? Só por que agora não posso, nem de longe, pensar em ir à Europa? A gente não paga nada por fantasiar. Ou paga? Apaga que tem que pagar. A paga. Fantasiei sobre o amor de hábitos sofisticados, nós dois vendo a neve do alto de um teleférico, de puro prazer. Cada amêndoa saboreada era uma fantasia vivida. Ame  amendoar. Amendo ar. Amem do ar ao invés de amém doa. Amar do ar. Amor, viagem.  Comer amêndoa sem dizer amém a ninguém. Esqueci do amendoim e fui feliz.
                                                                                                              Marcia Gomes. 

domingo, 21 de junho de 2015

21/06/2015                                            PLEONASMO.

Desci até o playground de meu prédio e fui tomada por uma nostalgia saudosa. Será que nostalgia saudosa é pleonasmo? Acabei de ler uma crônica muito divertida e bucólica (crônica bucólica?) onde o autor diz que aprendeu a falar "abraço caudaloso" com Manoel de Barros e expressa perplexidade diante do fato de a palavra "engano" vir sempre precedido de "ledo". Mas precedido de "Ledo" também vem "Ivo". Ledo Ivo, se não me engano, é o nome de um escritor. Ou será um ledo engano? Ivo viu a uva. Frase que constava da minha cartilha de alfabetização quando eu era criança. Cartilha de alfabetização quando eu era criança é um pleonasmo? Só se for um pleonasmo preconceituoso e desinformado. Afinal, no nosso país e em muitos países as pessoas usam cartilha de alfabetização quando são adultas. Cartilha, é bem verdade, eu não sei não. Cartilha é coisa dos tempos idos.

Assisti recentemente a um filme muito enternecedor ambientado numa pequena cidade da África onde um senhor de mais de 80 anos luta ferozmente pelo direito de se alfabetizar numa escola pública à qual somente crianças podiam ter acesso. Para mim foi muito tocante ver a determinação e a dignidade com que aquele senhor reivindicava ser alfabetizado. Não é que ele conseguiu? Me causou particular interesse observar como ele se relacionava com seus colegas crianças, acabando por dar um jeito de ser aceito pelo grupo dos menores. 

O playground do meu prédio estava todo ornamentado de bandeirolas e balões de São João. Vou passar um São João chucro provavelmente em Salvador e solitária. Fiquei com muita vontade de aceitar o convite de uma amiga querida para ir a seu sítio. Mas pelas idiossincrasias do atendimento médico nessa cidade, não vou ao sítio. É que a médica especialista em dor que me fará (ou faria?) o procedimento de bloqueio, sumiu de circulação e até hoje não respondeu a meus telefonemas. Idiossincrasias baianas? Ou estou sendo preconceituosa com minha terra? Afinal, médicos impontuais há em todo lugar.

Bandeirolas e balões coloridos de São João. Recordar é viver. Re cor dar. Dar de novo ao coração? São João é uma palavra mágica para mim. Só me traz belas recordações. Pois não foi quando eu completei 15 anos que minha mãe preparou uma festa junina surpresa para mim? Talvez vocês não se recordem, mas já contei sobre essa festa em outra crônica domingueira.

 Mas minhas belas recordações também remontam a períodos mais precoces de quando eu tinha entre 4 e 10 anos e morávamos no interior. Primeiro em Taperoá. Meu pai se encarregava de fazer lindos balões e do preparo da canjica e dos licores. Minha mãe ficava encarregada de providenciar os ingredientes e dava o apoio logístico. Os rituais começavam muitos dias antes da festa. Confeccionar os balões para depois içá-los aos céus era um trabalho cheio de requintes estéticos sofisticados. Requintes sofisticados é pleonasmo? A escolha das cores dos papéis e das figuras para compor cada balão era coisa de artista. Já disse a vocês que além de médico, meu pai era também fotógrafo e tinha gosto visual apurado. Nós, os filhos, colaborávamos com ele no trabalho, e cada balão pronto era uma farra que fazíamos. Verdadeira celebração.

O preparo dos licores também era antecipado. Precisava de tempo para fazer a decantação. O carro chefe era o jenipapo. Mas tinha também cacau, tangerina, maracujá e mil outros sabores mais. Era muito licor. No interior havia o hábito de, na noite da festa, grandes grupos de pessoas passarem de casa em casa dançando forró, comendo e bebendo as coisas que o anfitrião oferecia. Nós recebíamos os visitantes com mesa farta e muita generosidade. Outra coisa que era uma farra era a compra de fogos. Cada um de nós queria para si o mais brilhante, o mais luminoso. Na hora de soltar os fogos minha mãe nos assessorava para evitar o risco de acidentes e queimaduras. Tudo isso acontecia à beira da enorme fogueira acesa na porta de nossa casa, onde assávamos milho e batata doce. Embora meu pai fosse ateu, logo aprendemos sobre o significado bíblico da fogueira. Ela foi acesa pela mãe de João Batista para anunciar seu nascimento à família de Jesus.

Na véspera da festa a feitura da canjica era um acontecimento muito particular. Uma senhora cujo nome me fugiu à memória e que gostava de tomar umas e outras, vinha também auxiliar meu pai que acreditava que quanto mais ébria ela estivesse, melhor prepararia a canjica. Ele então enchia a mulher de licor. Ela ficava muito engraçada fazendo pilhéria com tudo. Talvez, em alguns momentos, um pouco inconveniente. Mas quem vai ligar para isso na véspera de festejo tão lúdico? O milho era passado num moedor manual e em seguida a mistura era coada em um pano repetidas vezes antes de ser lentamente mexida ao fogo. É que se acreditava que o segredo da canjica era a leveza e delicadeza da massa. Acho que a canjica de meu pai era a mais leve e delicada de toda Taperoá.

Tinha também o ritual do preparo dos trajes típicos de caipira ao encargo de minha mãe. Se não me falha a memória, Anísia, a secretária de meu pai no consultório e que morava conosco, era quem costurava. Mas minha mãe não abria mão de escolher os modelos e comprar os tecidos. Além do acontecimento que era a roupa de caipira, ainda tínhamos a deliciosa aventura de podermos usar maquiagem.

Também é de São João a memorável recordação de meu primeiro pileque. Memorável recordação é pleonasmo? Aos meus 16 anos eu estava apaixonada por um bonito jovem de nome Rogério, irmão de uma grande amiga cujos pais moravam numa cidade de interior chamada Queimadas. Felizmente minha mãe autorizou que eu fosse com minha amiga e Rogério passar o São João naquela cidade. Dancei a noite toda encantada com Rogério e de tanto encantamento me embebedei. Minha grande e inesquecível transgressão alcoólica. Provavelmente, não na fogueira, fiquei queimada com a família que me recebia. Quem manda a cidade ter nome tão sugestivo? Só sei que Rogério não gostou nada de me ver literalmente botando os bofes para fora de tanto que eu vomitava. Perdi um namorado e ganhei uma ressaca de fazer dó.

Me vem outra lembrança bonita de festa de São João, nesse caso eu bem mais velha do que quando fui apaixonada por Rogério. Se não me engano, eu já era recém formada em Psicologia, tinha namoro firme com um rapaz de nome Alberto e uma estreita relação de amizade com o casal de colegas Ana Cecília e Virgílio que nos convidaram para a festança no sítio de Dailton, tio de Ana Cecília. Acho que Ana Helena, também amiga íntima, estava nessa embaixada. Se não me engano, o sítio era para os lados da Estrada Velha do Aeroporto. Fomos no carro de Alberto e passamos por vários divertidos acidentes de percurso antes de achar o caminho correto. Mas como valeu a pena!! Passamos a noite ao calor da fogueira, tomando licor e comendo muito amendoim e guloseimas, usufruindo da companhia de pessoas maravilhosas como a nossa saudosa Dona Ruth. Brincamos por um longo tempo de jogo da verdade. Os jovens, ah como às vezes é bom sermos jovens, se comprazem com esses jogos de descobertas e revelações onde se exercitam no conhecimento de suas subjetividades. Pelo menos os jovens do tempo em que fui jovem.

Pois é, São João para mim é palavra de "se guardar no lado esquerdo do peito". E "cometer" pleonasmos como nostalgia saudosa. Bom São João para vocês.
                                                                                Marcia Gomes.

domingo, 14 de junho de 2015

14/06/2015                                ATUALIDADE

Atual idade. Dar-me conta da idade atual. Atualizar meus amigos e colegas leitores sobre o momento que vivo. Faço 62 anos no próximo dia 19. Atual idade. Postei no meu Facebook algo que são amarras que se desfazem e se tornam gaivotas voando libertas. Sinto-me como uma gaivota voando liberta. Atual idade. Estou cuidando da saúde e em breve vou me submeter a um procedimento de bloqueio da dor que requer hospitalização por um dia. Estou confiante que vai dar certo.

 Atual idade. Resolvi que na data do meu aniversário vou fazer uma celebração à moda marciana. Escolhi sair com uma prima e um amigo ambos queridos, para um jantar informal sem cunho de festividade. Talvez almoçar com duas ou três amigas mais íntimas se elas puderem, sentindo prazer em usufruir da companhia, também sem cunho de festividade. É o meu desejo. Sinto-me envelhecendo. Será que envelhecer deixa a gente menos festeiro e mais seletivo? Não sei, não sei. Só sei que esse ano pelo menos, não cabe festejar. Nunca fui muito afeita a meu aniversário. Também não sou muito amiga de festas. Sou tímida, um tanto taciturna, e me sinto mais à vontade em pequenos grupos. Lembro que Lívia, uma sobrinha querida que é também psicóloga e mãe da meiga Iasmin, faz aniversário comigo. Parabéns, Livinha !!! Para mim, manifestações de felicitações são bem vindas, mas sem clima de festividade. Esse é o meu desejo.

 Quero exercer meu desejo. Faço 62 anos sob a égide de ventos que anunciam bons presságios. Me sinto animada. Instalada sem lamentações no fato de que sou uma senhora mais que sexagenária e que isso implica algumas perdas necessárias. Felizmente, nos últimos anos, perdi muito peso infelizmente sem fazer atividade física. Aceito que tenho que me deparar com as desagradáveis consequências disso, que me deixam com uma aparência bem mais envelhecida, ainda mais tendo assumido meus cabelos brancos. Assumi com prazer. Por outro lado, minha saúde melhorou bastante e as minhas taxas de colesterol, triglicérides etc, etc, estão maravilhosas. Não é fácil lidar com uma relativa perda do vigor da juventude, mas me ancoro em algumas saídas sublimatórias. Por exemplo, tenho meu trabalho que adoro e vivencio com muita alegria a experiência de maternagem adotiva. Meu filho Rafa está muito bem instalado em Porto Seguro como professor da UFSB. Nos próximos dias vai  receber a esposa que mora em São Paulo e está feliz com isso.

Sinto-me privilegiada por trabalhar no que gosto. Estive por um longo período com o meu desejo pela psicanálise muito amortecido. Amor tecido. Amor ter sido. A morte sido. Renunciar ao gozo mortífero para que como Fênix renasça das cinzas e possa fazer as pazes com o que sou, como sou, jogando rótulos aprisionadores e estigmatizadores no lixo. Parece que faço pazes com a psicanálise. O movimento na minha clínica tem melhorado de modo relativamente satisfatório, considerando que o país vive um momento de crise e que estou na psicanálise há pouco tempo.

Sofro ainda e muito com um problema de refluxo esofágico somado a interação medicamentosa que me causam uma dificuldade sensível de articular a fala. Isso é muito complicado para alguém para quem falar é uma necessidade visceral. Essa desagradável limitação muito me inibiu de frequentar grupos e poder conversar livremente. Enquanto não se resolve, tenho usado algumas saídas paliativas que não me impeçam de todo de me exprimir principalmente em situações de trabalho. Fiquei muito feliz de ter aceito o desafio de preparar um trabalho sobre o estado amoroso para apresentar em outubro no seminário da Letra Freudiana em Salvador. Vou apresentar falando como posso. Também fiquei feliz de ter ido esta semana ao Campo Psicanalítico assistir ao debate sobre os nós do sintoma na entrada em análise. Provavelmente volto lá no dia 16 para participar do "Bloomsday". Marco da data em que transcorre a narrativa de Ulisses de James Joyce.

Por coincidência o dia 16 é também muito importante por ser o aniversário de minha mãe. Eu e ela temos tido uma relação muito amorosa. Agora, nesse período próximo ao São João, o movimento no consultório tem uma queda por conta do feriado e férias escolares. Por isso não é o melhor momento para eu viajar para vê-la. Mas assim que puder, o farei. Para mitigar a saudade falo com ela duas vezes por dia. Gostaria muito que meu irmão com quem Dona Myriam mora, dispusesse de tempo para colocá-la no Skype para conversarmos mais ao vivo. Mas nem tudo é como a gente gostaria. Torço para que minha mãezinha fique contente com o presente e o cartão que pedi à minha cunhada que comprasse para ela.

 Estou um pouquinho preocupada porque por conta de uma viagem do meu irmão e minha cunhada, minha mãe talvez vá também viajar e se hospedar em Aracaju na casa de minha irmã mais velha. Sandra é muito amorosa e cuidadosa com ela que é apaixonada por Alfredo, seu genro. O motivo da minha preocupação é que minha mãe sofre um certo abalo com mudanças geográficas. Fica um pouquinho desorientada. Só de saber que talvez viaje, ela tem chorado às vezes, e tem apresentado lapsos de memória preocupantes. Me disse com sua vozinha sumida e triste, que não aguenta mais fazer viagens. Se fosse só pela minha vontade, Dona Myriam permaneceria instalada no seu cantinho em Maceió, sem precisar passar por mudanças estressantes. Mas nem tudo é como a gente gostaria.  Meu irmão e minha cunhada cuidam dela com muito amor e dedicação e precisam viajar.Me consola saber que tenho podido usufruir de uma gratificante relação com minha mãe. Fico muito contente de vê-la fisicamente plenamente recuperada da mastectomia que sofreu no ano passado, momento em que vocês muito me apoiaram.

Não sem esforço (não consegui dar conta de toda a leitura), mas com muito gosto, me preparei para a discussão com uma psicanalista da Letra Freudiana do Rio. É que eu e uma colega muito querida estamos há 2 anos estudando o Seminário 6 de Lacan e de 2 em 2 meses tiramos nossas dúvidas com essa psicanalista do Rio. É muito rico e proveitoso. Se as contingências ajudarem, pretendo no segundo semestre participar de um trabalho sobre o Seminário de Lacan "O Ato Analítico" com essa psicanalista. Também estou me organizando para ver se retomo minhas sessões de supervisão.

Tanto quanto o problema da coluna permite, tenho estado com amigos e adorei assistir "O Sal da Terra" com um amigo muito querido. No feriado passado encontrei com uma amiga que não via há muitos anos e por quem tenho muito afeto. Fiquei muito feliz de saber que ela vai ser avó. Num desses fins de semana fui à casa de outra amiga adorável e confortavelmente instaladas assistimos a uma aula de um psicanalista. Na saída ainda ganhei de presente uma almofadinha milagrosa para descansar a coluna. Almocei no fim de semana passado na Ceasinha   do Rio Vermelho com duas outras amigas. Mesmo com muita dor, foi um programa delicioso.

 Tendo um orçamento que não me dá folga, tenho me permitido fazer pequenos gastos como cortar o cabelo e fazer a unha, sem que por isso precise me sentir em dívida, como se o outro (aqui faço questão de usar letra minúscula) estivesse me pedindo  explicações de como uso meu dinheiro. Finalmente comprei sem culpa uma secretária eletrônica para meu consultório. O telefone da antiga não funcionava mais e o conserto sairia mais caro do que a compra de uma nova. Não me sinto em dívida. Tento aceitar o afeto que as pessoas que me querem bem me oferecem, sem que eu tenha que pagar algo por isso. Apenas fico muito grata. Muito grata mesmo. Como fiquei quando ganhei um maravilhoso puf para descansar os pés dando trégua à coluna. Vocês estão notando que toda hora estou falando da coluna?

Tem a chuva, mas estou curtindo muito a atmosfera de prenúncio de inverno. Há uma temperatura mais amena e os dias de céu mais sombrio me lembram São Paulo com suas veredas enganosas e prédios elegantes. Se o bom momento que estou vivendo se mantiver, qualquer hora dessas dou um pulo em São Paulo. Depois de tantos anos sem me permitir ir até lá, quero ver os caules de suas árvores dolorosamente maltratados pela fuligem da poluição. Quero ver São Paulo tão bem cantada na crônica musical de Paulo Vanzolini. "Cena de sangue num bar da Avenida São João". Quero ver são Paulo, essa banda de Moebius cantada por Caetano. "Porque é o avesso, do avesso, do avesso, do avesso." 

Sexta-feira, dia dos namorados, mesmo sem namorado assisti  ao filme "O Homem que Elas Amavam Demais" com Catherine Deneuve. No mínimo instigante. Sempre gostei de ir ao cinema sozinha. Não tenho vontade de assistir à programação pasteurizada e de péssimo gosto da Globo, com suas investidas tendenciosas contra o governo e fazendo um alarde mentiroso e sensacionalista a respeito da crise econômica que o país atravessa. Mesmo assim, assisti e gostei da entrevista dada pela presidente Dilma a Jô Soares. Acho que ela se saiu muito bem.

 Tenho me divertido muito com a programação do canal Arte1. Assisti a um longo e interessante documentário sobre João Cabral de Melo Neto. Fiquei triste de saber que ele já ficou internado num hospital psiquiátrico por um período. Lamentável. Na entrevista que ele dá no documentário, diz que dos bons poetas brasileiros Drummond é o menos lírico. Lembro que estou tomando um remédio para dor na coluna chamado Lyrica. Parece que mais o nome poético do que propriamente a medicação, me traz um alívio. Ai, as palavras, que felizmente nos permitem enveredar por novas cadeias significantes. Ai, as palavras.

Bom poder resgatar um pouco o meu gosto por brincar com as palavras, sem ficar atormentada pelo que posso interpretar como imperativos superegóicos do Outro. Ator mentada. Ator mentida. Essa brincadeira aqui estou tomando emprestado a um amigo poeta que a pronunciou no masculino numa sessão de análise. Atual idade. Tempo de me autorizar sem rótulos aprisionadores. Tempo de viver sem  pedir desculpas por existir. Descobri que os matizes de púrpura que atribuí às mães e a mim em texto anterior, são marcas vermelho- sangue de muito sofrimento. Mento. Minto. Tempo de dizer não ao sofrimento um tanto masô pelo qual me deixava às vezes tomar. Aprendi que na etimologia da palavra "sádico" tem algo de sapo. Sapo, aquele animal asqueroso que me causa repulsa e que diz a lenda que  lança um líquido no olho da gente e nos deixa cegos. Cegos para não ver que toda masô tem um lado sádico, um lado de sapo, aquele animal asqueroso que me causa respulsa.

O sangue do sofrimento pulsa em minhas veias parecendo não me dar trégua. Trégua, égua. Animal elegante fêmea do cavalo. Trégua lembra ser mulher emparceirada e elegante. Quero me dar trégua. Aos 62 anos, que seja. Afinal o inconsciente é atemporal. Rimou. Rimo, rimo. Muro de arrimo pra me sustentar, ou me sustentar no fio tênue do equilibrista?
                                                                        Marcia Gomes.

domingo, 31 de maio de 2015

31/05/2015 O RESTAURANTE "CASA DE TEREZA" EM SALVADOR PODE SER UM ENGODO??

Meus amigos e leitores, hoje aproveito o espaço da crônica dominical para fazer um comunicado. Para alertá-los quanto ao perigo de sermos desinformados, termos boa fé e confiarmos na palavra de desconhecidos com a maior credulidade. E para adverti-los: na minha modesta opinião e com base na minha experiência, sejam cuidadosos ao pisar os pés no restaurante "CASA  DE  TEREZA" que fica na Rua Odilon Santos, número 45, no bairro do Rio Vermelho em Salvador. O nome oficial do restaurante é "TEREZA  PAIM  GASTRONOMIA  LTDA" e o CNPJ é 11.255.233/0001-51 . Peguei esses dados na nota de venda que felizmente mantive em meu poder.

Passo a relatar em seguida o que me aconteceu indo até lá. Como já transcorreram alguns dias da experiência vivida, pode ser que o meu relato seja impreciso, omitindo alguns detalhes ou mesmo carregando nas tintas em outros. A nossa memória é falível, ainda mais sob o impacto de desgaste emocional. Mas tentarei ser o mais fiel possível aos fatos como ocorreram.

No dia 16/05 passado fui a esse restaurante a convite de Rafael, pessoa que considero como filho. Achei um pouco caro, mas a comida era aceitável. Quando pedimos a conta e a moça de nome Judith trouxe a máquina para passarmos nossos cartões, eu jamais poderia imaginar que passaria a viver um pesadelo kafkeano por ingenuidade e falta de informação. Rafael pediu à Sra. Judith para passar o seu cartão no débito. Ela manipulou o cartão na máquina enquanto Rafa e eu conversávamos distraídos, sem olhar o que ela fazia, e a senhora nos disse então que o cartão de Rafa não foi autorizado para débito. Rafa ficou surpreso e se perguntou o que haveria acontecido com seu cartão. Para encurtar a conversa (Rafa estava muito cansado e precisava dormir) me ofereci para pagar a conta com meu cartão e fui muito clara ao dizer à Sra. Judith que era no débito. Fui muitíssimo clara. 

Eu e Rafa continuamos conversando sem observar o uso que ela fazia da máquina, mas quando ela me deu o recibo azul saído da máquina, felizmente eu tive o cuidado de olhar. Nossa conta havia sido registrada na máquina como crédito. Então eu gentilmente reclamei porque fazia questão que fosse débito. Ela então disse gentilmente que ia fazer o estorno e corrigir o seu equívoco. "Não conseguiu" estornar. Alegou que era porque a empresa CIELO não opera com estorno em fins de semana. Eu pedi que ela resolvesse o problema porque fazia questão de pagar a conta no débito. Ela insistiu em dizer que não conseguia estornar. Então já um tanto chateada com a situação, eu disse que um acontecimento como aquele merecia ser publicado na internet porque semelhante equívoco não se justificava num restaurante do preço e da qualidade do "CASA  DE  TEREZA".

Então a Sra. Judith nos disse que ia com certeza fazer o estorno na segunda-feira seguinte (estávamos num sábado) e que para se desculpar do transtorno, nós não pagaríamos nada pelo almoço. Ficaríamos como convidados. Tomou meu nome completo e meus telefones para ligar na segunda-feira pela manhã e me dar o número do protocolo do estorno. Me deu o telefone 33293016 caso eu quisesse fazer contato. Eu felizmente guardei a nota da nossa conta no restaurante e o recibo azul da CIELO constando a cobrança em crédito. Eu e Rafa saímos do restaurante satisfeitos com a solução encontrada pela Sra. Judith. Ela nos tratou com gentileza e parecia ter resolvido nosso problema com elegância. Não sabíamos que o pesadelo Kafkeano estava sendo iniciado e que como dois bobos crédulos, talvez tivéssemos sido enganados. Chegando em casa Rafa fez a transferência de uma quantia de sua conta para a minha com a maior facilidade. Então por que será que no restaurante o seu cartão foi não autorizado para débito? Inabilidade da Sra. Judith para operar a máquina de cartão?

Embora crédula, eu observei que a Sra. Judith não me telefonou coisa nenhuma na segunda-feira de manhã para dar o número do protocolo do estorno. Então liguei para ela que me pediu um prazo até 15:00 h para me dar o número do protocolo. Chegaram as 15:00 h e a Sra. Judith não ligou. Então já meio aborrecida,  eu liguei para ela que num tom que me pareceu um tanto dissimulado, me deu o número de telefone da CIELO  (40025472) e número de protocolo 5931412 me assegurando que o estorno havia sido feito.

Então, mal impressionada com o tom da voz da Sra. Judith que me pareceu dissimulado, eu liguei para o número de telefone da CIELO dado por ela para checar o número de protocolo e se o estorno havia sido feito. O número supostamente da CIELO pedia o número do CNPJ do estabelecimento. Como eu não sabia que o número do CNPJ consta da nota de venda que estava em meu poder, fiquei sem ter como me comunicar com aquele número de telefone e sem poder checar o número de protocolo e se o estorno havia sido feito. Mas comecei a suspeitar levemente que havia algo errado na minha comunicação com aquela senhora e telefonei para o banco para checar o meu cartão. Fui informada pelo banco que aquela conta constava como crédito na minha fatura e que nenhum estorno havia sido realizado.

Ingênua, desavisada, e ainda dando um crédito de confiança ao estabelecimento, voltei a telefonar para a Sra. Judith comunicando o que eu constatei junto ao banco. Ela então me informou que o estorno havia sido feito pelo Sr. Wellington, responsável pelo setor financeiro, e que eu deveria passar a me entender com ele. Se não me engano, àquela altura já estávamos numa quinta-feira. Sou crédula, ingênua e desinformada, mas não tolero ser enganada. Liguei para o Sr. Wellington e ele me disse que o banco não tinha ainda registro do estorno porque são necessários 5 dias úteis. Se estávamos na quinta-feira, no dia seguinte se completaria o prazo de 5 dias úteis. Mas o Sr. Wellington me disse que me telefonaria somente na segunda-feira, dia 25/05 apenas para me certificar que estava tudo resolvido. Então, muito aborrecida, o adverti que se eu não tivesse notícia do estorno até o dia 25, acionaria judicialmente o restaurante "CASA  DE  TEREZA" e divulgaria o acontecido na internet.

Na segunda-feira, dia 25/05, ligo novamente para o setor de cartões do banco e me informam que a conta do restaurante consta na minha fatura como crédito e que dela nenhum estorno havia sido feito. Então, para lá de aborrecida, ligo para o Sr. Wellington e digo que vou passar no restaurante para falar com os proprietários acompanhada do meu advogado. Imediatamente em seguida a Sra. Judith me liga dizendo que está na linha com a empresa CIELO e que precisa que eu forneça a ela o número de protocolo que havia me dado. Ansiosa por ver o problema resolvido e preocupada com indo ao restaurante com o advogado prejudicá-la e ao Sr. Wellington como funcionários, forneço a ela o número do protocolo, mas, confesso, muito desconfiada.

 No mesmo dia no começo da tarde, ela me liga dizendo que por "um erro da CIELO" o estorno realmente não havia sido feito. Então me pede um endereço para o Sr. Wellington ir pessoalmente com a máquina da CIELO realizar finalmente o estorno. Boba, ingênua, e já fazendo jeito de quem gosta de apanhar, ao invés de sustentar que iria ao restaurante acompanhada de meu advogado, dei o endereço da lanchonete do prédio onde trabalho para o Sr. Wellington ir com a máquina realizar o estorno. Onde estava eu com a cabeça para dar o endereço do meu trabalho para pessoas desconhecidas e que se comportavam comigo de modo confuso?

Tão aflita eu estava para resolver o problema e me livrar daquela situação Kafkeana, que nem verifiquei se a máquina que o Sr. Wellington trazia era mesmo da CIELO e ainda dei meu cartão a ele para manipular na máquina. Ele sentou-se numa posição que não me permitia ver o que fazia com a máquina e com meu cartão. Alguns minutos depois, me devolveu meu cartão dizendo que não pode realizar o estorno porque a máquina estava dando "não autorizado". Então, estando ele ainda no prédio do meu trabalho, me perguntou se eu não queria receber o valor em dinheiro. Muitíssimo aborrecida e já considerando que obter o estorno do pagamento em crédito já se tornara uma questão de honra para mim, respondi que eu levaria o assunto ao meu advogado.

No mesmo dia, no fim da tarde, o Sr. Wellington fala ao telefone comigo e diz que conseguiu conversar com uma supervisora da CIELO e que conseguiu finalmente realizar o estorno. Marco para na mesma hora ele aparecer na lanchonete do prédio do meu trabalho com um comprovante do estorno para me entregar. Convido uma pessoa conhecida que estava na lanchonete para servir de testemunha. Na presença da testemunha, o Sr. Wellington me entrega um recibo de cancelamento de compra (estorno) feito em 25/05/2015. No recibo constavam o logotipo da CIELO, dados do meu cartão, número de protocolo e o prazo de 3 dias úteis para informação ao banco do cancelamento.

Na quinta-feira pela manhã, dia 28/05/2015, transcorridos os 3 dias úteis, ligo novamente para o banco e constato que finalmente o estorno havia sido realizado. Ufa!! Que alívio!!  Equívoco da CIELO? "Inexperiência" dos funcionários de TEREZA PAIM GASTRONOMIA LTDA para realizar o estorno de uma venda, operação de rotina em qualquer estabelecimento comercial? Estou eu sendo inadequada expondo o nome de dois funcionários por não possuir o nome do (a) proprietário (a)? 

 Talvez eles estivessem agindo daquele modo confuso tentando preservar seu emprego no restaurante. Deixo que cada um de vocês tire suas próprias conclusões. Afinal, não posso nem devo fazer pré julgamentos. De qualquer sorte, agradeço ao Sr. Wellington e à Sra. Judith por terem me poupado de acionar judicialmente o restaurante e de publicar o acontecido na internet. Compartilho a experiência com vocês como um desabafo e para adverti-los. Mas quem vai pagar pelo desgaste emocional que eu tive com esse processo kafkeano? Afinal transcorreram 12 dias de desgaste entre o almoço na CASA DE TEREZA e a constatação de que o estorno foi realmente realizado somente no dia 25/05/2015. E imaginem que na hora que lá entrei, gostando muito da decoração, por alguns segundos eu cheguei a cogitar de comemorar neste restaurante meu aniversário no próximo dia 19/06. Nem pensar!!!

Felizmente a gente pode sair desse mundo pequeno assistindo e se comovendo muito com o filme "SAL DA TERRA" sobre a vida e a obra do fotógrafo Sebastião Salgado e comendo um delicioso crepe na casa de uma amiga que nos recebe com carinho e doçura. Foi o que fiz ontem. 
                                                                                         Marcia Gomes.