segunda-feira, 29 de agosto de 2016


22/05/2016   AGRADECIMENTO  À  COLEGA  PSICANALISTA  DO  ESPAÇO  MOEBIUS   MARIA  AUXILIADORA  FERNANDES (Mali) PELO  RETORNO  CORAJOSO  QUE  ME  DEU  A  MEU   "DEPOIMENTO  COMOVIDO"  datado em 20/05/2016                    




Oi, Mali,

Obrigada por me achar "mulher de coração valente". Sou mesmo. Não consigo ser infiel com as causas que defendo, mesmo perdendo amizades. Foi assim quando me autorizei analista. Passei a recusar todos os encaminhamentos de pacientes que vinham com uma demanda de terapia cognitivo-comportamental e escrevi uma carta aos milhares de psiquiatras que me faziam encaminhamentos, dizendo que havia, com muito entusiasmo, abraçado a causa da psicanálise.

 De repente, como era reconhecida por aquele rótulo, e ainda desconhecida nos meios psicanalíticos, meu consultório, quando eu antes atendia mais de 40 pessoas por semana, ficou vazio. Foi um período muito difícil. Meus amigos mais próximos, que eram behavioristas, se afastaram. Um deles, totalmente imerso no discurso universitário, chegou a me dizer que eu, acabaria na sarjeta, e, "como Freud", pedindo dinheiro emprestado aos amigos. Não titubeei, nem me atemorizei. Estou aqui firme. A minha passagem para a psicanálise é muito, muito gratificante e irreversível.

Agora, o mesmo parece que vai acontecer com a causa política. O momento que o Brasil passa me convoca e isso se torna maior que os anseios e os temores pessoais. Acho que esse é mesmo meu jeito. Destinação? Entre as colegas cuja "coxinhagem" denunciei, está uma grande amiga. Muito amiga mesmo! Como eu tenho um certo romantismo com a questão da verdade e da transparência, mandei o meu "Depoimento Comovido" para muita gente, inclusive esta amiga, cujo nome eu não tenho revelado em nenhum momento.

 Provavelmente já ganhei uma inimiga. Fazer o que? O que mais me indignou no comportamento dela foi o discurso ambíguo. Se apresentar como defendendo posições à esquerda, só quando convém. Quando está na companhia de pessoas à esquerda. Até assinou o manifesto dos psicanalistas e o documento dos psicólogos. Mas quando está perto de pessoas à direita, vira a casaca com medo de ser mal vista pelas colegas. Isso para mim é difícil de tolerar. Sei que no mundo em que vivemos, não é bem acolhido fazer política em ambiente de trabalho. Temos que ser psicanalistas numa hora e pessoas de esquerda, em outra.

 Embora ache isso um tanto esquizofrenizante, eu acolho e respeito essa espécie de "norma". Mas num almoço? Ter que ouvir pessoas fazendo uso clichê e indevido, tipo psicanálise selvagem, da teoria psicanalítica, para "interpretar" de modo jocoso pessoas como Nise da Silveira e Iara Iavelberg? Sou encantada com a psicanálise, mas tenho muita dificuldade de entender que um analista seja reacionário. Tenho dificuldade de entender como se pode ocupar esse lugar de causa de desejo sem pensar em contemplar as necessidades do povo brasileiro para que venham a ter as mínimas condições de se fazerem sujeitos desejantes.

Talvez eu seja meio "contrafóbica" e precise ter mais jogo de cintura. Admiro muito você por também ser corajosa e principalmente pela aposta na causa do Viva Infância. Por tudo isso, confio em você. Por isso, atendo o que você me pede e lhe confesso o nome da tal "Mestra":          . Por favor, guarde total sigilo. Procuro manter ao máximo minha coerência, mas longe de mim está ser um "dedo duro". Talvez eu precise aprender um pouco de jogo de cintura com você. A jornadinha do Moebius foi muito boa. Bons trabalhos. particularmente o trabalho de Maíra foi muito bonito e sensível. Gosto muito das pontuações de Aurélio. Estou pensando em fazer a entrevista de acolhimento para me tornar participante e poder apresentar trabalho no Moebius. Tenho ficado muito circunscrita à Letra e talvez seja hora de circular um pouco. Boa semana para você.
                                                                                                                              Um beijo,
                                                                                                                                    Marcia Myriam.




Nenhum comentário:

Postar um comentário