domingo, 7 de agosto de 2016

Mensagem muito íntima a Ana Cecília, minha melhor amiga sobre alguns mal entendidos naturais, entre nós todos, seres de linguagem. O desarranjo linguageiro aconteceu quando tratávamos de Ana Helena, outra amiga queridíssima, com quem infelizmente não disponho do recurso poético que disponho com Ana Cecília e que amortiza nossas questões de relacionamento. Felizmente, entre as três o afeto e a confiança prevalecem, acima de tudo. Data da mensagem: 14/02/16 

Por favor, não sinta muito por tudo isso. Na minha opinião não existe intersubjetividade. Então não é possível haver "comum nicação". Seres falantes, estamos sempre a tropeçar nos malentendidos os quais não vejo como necessariamente maus. Não acho possível sermos cem por cento bem entendidos. É o preço que pagamos por estarmos imersos no mundo da linguagem. "A palavra mata a coisa", diz Lacan. A tal realidade dos fatos tão cara aos behavioristas e cognitivistas, está perdida para sempre. Quanto aos malentendidos ( não é possível haver bem entendido cem por cento) se podemos falar sobre eles, podemos também crescer com eles. Que ótimo nos liberarmos da ilusão quanto a mudar o mundo, pessoas e muito menos interpretações. Aliás, não gosto muito desta palavra. Ela parece sugerir que há um mundo objetivo da realidade, sobre o qual interpretamos mais ou menos fidedignamente. Quanto mais fidedignos, mais corretos cognitivamente. Acho tudo isso uma grande bobagem que parece nos fazer cultivar nostalgia quando nos sentimos incompreendidos nas nossas verdades. Para mim, vivemos imersos inevitavelmente nas nossas leituras e ficções. Por isso, na minha opinião, se queremos estar com o outro precisamos esclarecer de vez em quando sob pena de sucumbirmos numa torre de Babel. Esclarecer para mim não significa buscar a verdade dos fatos, inalcançável, mas se aproximar um pouco mais da ficção de cada um para respeitá-la. Fico muito grata por você tentar dizer para mim de qual é a sua ficção quanto ao episódio "telefonema meu a Ana Helena". Isso apazigua, e a mim me ajuda muito a sem mágoas dar o assunto por encerrado. Penso que publicar escritos do silêncio sem guardá-los a sete chaves, é de certa forma querer contar ao outro sobre as suas ficções.Felizmente você é uma poeta de estatura e assim se permite se deixar devassar pelo outro nos seus redutos. Do contrário, seria uma esquizofrênica. Desculpe o uso dessa palavra tão estigmatizada e usada mesmo muitas vezes como xingamento, acusação ao outro. Não achei outra melhor agora nesse momento. Eu, infelizmente não sou escritora. Então preciso falar quando o copo está cheio. O bonito disso tudo ao meu ver é que como disse Freud a poesia antecipa a psicanálise e ambas têm muito em comum. Penso que talvez seja um pouco ingênuo se ressentir com o que inevitavelmente faz parte da nossa constituição como sujeito: o equívoco, o titubeio, o mal dizer. Para mim essas coisas são preciosos e bonitos instrumentos de trabalho.

O que é isso, menina? Eu, lhe dando oportunidade de divulgar seus escritos? Pirou de vez? Quem sou eu? Só lhe perguntei se conhece o negócio da Fundação Cultural porque Fátima mencionou e eu não conheço, para usarmos na obra de Boinha. Não lhe aconselhei como escritora. Lhe consultei como escritora. Tá vendo como as vezes é bom e necessário esclarecer para o outro sobre quais são as nossas ficções? Por absoluta burrice tecnológica, não tenho como lhe enviar o poema de Niltinho. Seria inconveniente para você ficar amiga dele no Face? Adoraria dar uma passadinha no evento "Poesia em Família". Tomara que eu possa. Da minha parte estou satisfeita com o que conseguimos e podemos dar um ponto final na conversação penosa sobre eu, você e Ana Helena. De resto e o que importa é que gosto muitíssimo de você. Bom domingo.
                                                                                                                            Um beijo,
                                                                                                                                    Marcia.




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