quinta-feira, 3 de outubro de 2013

"Blá, blá, blá domingueiro...." e....Em paz,com dor e saudade.

Texto de 10/08/2013


"A saudade é o revés do parto. A saudade é arrumar o quarto....."  (Chico Buarque -"Pedaço de mim"). Estou "arrumando o quarto". "Arrumar o quarto" de quem partiu, é revisitá-lo, fazer contato, retornar a onde paramos. Por isso me recordo da minha alegre e vivaz conversa com D. Ruth sobre a sua cálida, verdadeira, intensa, arrebatada e generosa experiência de amor com o Professor José Newton, que só de casamento durou sessenta anos, celebrados somente pela família, com muita discrição, em 14 de julho de 2013. Hoje, 10 de agosto, não faz ainda um mês.
 
Foi contando a milagrosa história de amor deste casal idoso, que conquistei o interesse dos leitores nos meus escritos, que construí uma lista grande de pessoas que se tornaram escuta assídua do meu "Blá, blá, blá....". Por isso, hoje preciso fazer silêncio. Por isso, vou deixar para contar a visita de Maroca que aconteceu no domingo passado e foi uma MARAvilha, outro dia.
   
Tenho sono pesado. Não acordo de madrugada nem para ir ao banheiro. Quanto mais ir olhar se tem mensagem no computador. Dia 10 de agosto de 2013. Acordo às 3:00h da manhã e vou direto ao computador ver se tem mensagem para mim. Tem uma de minha amiga irmã Ana Cecília, filha de D. Ruth e do Professor José Newton, postada antes da meia noite do dia 9, ontem.
 
Só lembro dessas palavras: "Minha mãe descansa em paz."  Existimos porque ela lutou por seus sonhos"". Inexpugnável. Não sei o que esta palavra quer dizer nem como se escreve. Mas gosto de pensar que o que me aconteceu na hora em que li a mensagem foi o "inexpugnável". O som da palavra (não enxergo a letra do dicionário agora) me acalenta os ouvidos.
 
Precisando de acalento, volto para a cama para acordada esperar o dia amanhecer. Choro, choro, choro, de uma solidão inexpugnável. Orfandade. Em mim, não é surpresa o que me toma. Tudo muito rápido. Em junho passado convidei D. Ruth para o meu aniversário. No dia 14 de julho, seu aniversário de casamento, os filhos não sabiam se ela aguentaria ir à missa de celebração só para a família. Mas ela, determinada, foi à missa. A festa, que não pôde haver, Ana Cecília havia sugerido que eu relatasse no "Blá, blá, blá....."Tudo muito rápido.
 
Eu, nesse tempo relâmpago, pensei muito na minha mãe. Na sua saúde fragilizada, na minha urgência em resgatar tudo que houve de bom. Eu, nesse tempo relâmpago, pensei em Deus.Obrigada, Dona Ruth! Eu, nesse tempo relâmpago em que a minha amiga foi um exemplo de coragem e dedicação, senti muita dor . Como será quando perder minha mãe?
 
Fiquei grata por ter ido a tempo visitar D.Ruth e poder acariciar sua mão, beijar seu cabelo e receber seus beijos tão afetuosos. Tudo muito rápido. Eu, nesse tempo relâmpago em que a minha amiga se dedicou em tempo integral a cuidar de sua mãe, agradeci por seus irmãos serem tão unidos, senti inveja desta família e uma paz infinita por saber que D.Ruth estava todo o tempo sob o cuidado amoroso de seus, diuturnamente.
 
Eu, nesse tempo relâmpago, pensei todos os dias na minha amiga D. Ruth que já não podia receber visita. Na sua vivacidade, sua alegria, sua coragem. Sua determinação em viver sua história de amor a despeito das interdições. "Existimos porque ela lutou por seus sonhos".  A frase, a mensagem.Inexpugnável? Eu, nesse tempo relâmpago, sob inspiração do exemplo de D.Ruth, me tornei uma pessoa melhor. Resgatei coisas preciosas que julgava em mim irrecuperáveis. Hoje, depois de 40 anos de amizade, vi, pela primeira vez, minha amiga Ana Cecília chorar.
 
D.Ruth é semente de amor espalhada aos ventos de três gerações. Por isso sinto dor, saudade, mas em paz. Por isso me sinto resgatada pelo mistério, pelo indizível,pelo que transcende. Estou na Bahia, mas voltei para casa. Lembram do texto do passarinho?  INTENSO, inTENSO, intenSO?  Ao me despedir, escrevi este cartão para D. Ruth:  "Finalmente o passarinho voltou para casa.Gratidão eterna".
 
P.S.Chorando, (infelizmente sou muito chorona),  pedi autorização a Ana Cecília para fazer este texto.Ela concordou.Pretendo fazer muitas visitas ao Professor.Seu rosto? uma integridade esgarçada de dor.
                                                                                  

    Marcia Gomes.     
 

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