Texto de 01/07/2012
“Blá,blá, blá domingueiro...” e... Entrevista com Freud
Tarde de
domingo prenhe de enganos sonoros. Os carros, na rua, ouvidos de dentro do
apartamento, instigam a ilusão de ondas do mar se precipitando nos rochedos. No
céu, o azul encobre inibições de nuvens se esgarçando.
Leio António
Lobo Antunes: "Ontem não te vi em Babilónia.” O acento agudo no
"O" de um psiquiatra angolano. O texto entrecortado de arfares de
dor. Antes que se torne em dor, se interrompe. Antes que me torne
em dor, me interrompo.
Vou ler a entrevista.
Ontem assisti a um documentário com Manoel de Barros. Aquele que diz:
"repetir, repetir, até ficar diferente." Entrevista. Entrever. Ver,
mas não todo, o homem de casa modesta e cortesia impecável.
Volto para
António. O escorregar de palavras deslizando, deslizando, de repente... a
imposição do branco. A fala de algum personagem inesperadamente se entrecorta.
Penso na entrevista... O homem que extraiu da vida observar as plantas
crescerem na primavera. O pôr do sol. Sentir-se quase compreendido por um alguém que
aconteceu ao acaso.
Volto para
António. Ruptura subversiva nas barreiras da linguagem. Equivocidade. Quem
mesmo falou isso? Por que isso foi dito agora? De repente a imposição do
branco. O indizível da perda, do desamor presentificado num fluxo de linguagem
entrecortado. Nunca retomado. Quando retomado já é outra coisa.
Por que penso
na entrevista? O homem mais interessado em um botão que floresce que em seu
reconhecimento póstumo. O homem para quem viver eternamente seria um
aborrecimento. António Lobo Antunes, Freud. Literatura, psicanálise. O fluxo
que se interrompe. É impossível escrever a morte. De resto, Manoel de Barros:
"repetir, repetir, até ficar diferente.”
Marcia Gomes.
Essa entrevista de Freud:
http://www.freudiana.com.br/destaques-home/entrevista-com-freud.htmal#more-512
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