sábado, 28 de setembro de 2013

Texto de 01/07/2012

 “Blá,blá, blá domingueiro...” e... Entrevista com Freud


Tarde de domingo prenhe de enganos sonoros. Os carros, na rua, ouvidos de dentro do apartamento, instigam a ilusão de ondas do mar se precipitando nos rochedos. No céu, o azul encobre inibições de nuvens se esgarçando.

Leio António Lobo Antunes: "Ontem não te vi em Babilónia.” O acento agudo no "O" de um psiquiatra angolano. O texto entrecortado de arfares de dor. Antes que se torne em dor, se interrompe. Antes que me torne em dor, me interrompo.

Vou ler a entrevista. Ontem assisti a um documentário com Manoel de Barros. Aquele que diz: "repetir, repetir, até ficar diferente." Entrevista. Entrever. Ver, mas não todo, o homem de casa modesta e cortesia impecável.

Volto para António. O escorregar de palavras deslizando, deslizando, de repente... a imposição do branco. A fala de algum personagem inesperadamente se entrecorta. Penso na entrevista... O homem que extraiu da vida observar as plantas crescerem na primavera. O pôr do sol. Sentir-se quase compreendido por um alguém que aconteceu ao acaso.

Volto para António. Ruptura subversiva nas barreiras da linguagem. Equivocidade. Quem mesmo falou isso? Por que isso foi dito agora? De repente a imposição do branco. O indizível da perda, do desamor presentificado num fluxo de linguagem entrecortado. Nunca retomado. Quando retomado já é outra coisa.
Por que penso na entrevista? O homem mais interessado em um botão que floresce que em seu reconhecimento póstumo. O homem para quem viver eternamente seria um aborrecimento. António Lobo Antunes, Freud. Literatura, psicanálise. O fluxo que se interrompe. É impossível escrever a morte. De resto, Manoel de Barros: "repetir, repetir, até ficar diferente.” 
                                                                                                                                                 
                                                                                                                                                                  
Marcia Gomes.       



Essa entrevista de Freud:
http://www.freudiana.com.br/destaques-home/entrevista-com-freud.htmal#more-512
                                                                


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