sábado, 28 de setembro de 2013

Texto de 26/05/2013 

“Blá, blá, blá domingueiro...” e... "Sessentanos".

Nota ao leitor: O "Blá, blá, blá....." é um escrito em geral semanal, com modestissíssimas pretensões literárias, em prosa. Chegando perto talvez de uma crônica, costuma ser um texto  cheio de livres associações viajando por diferentes tempos.Pode (costuma) incluir informes autobiográficos, percorre histórias consideradas ternas ou pitorescas,contemplando muitas vezes impressões, sentimentos, modos de ver o mundo desta autora.

Por minha absoluta resistência ignorante em relação aos recursos internéticos, escrevo o "Blá, blá, blá..." sob a forma de e-mail. Nas primeiras vezes enviei a poucas pessoas. Muitas dessas poucas me deram retorno dizendo terem gostado do escrito. Então resolvi ampliar o envio para uma lista grande de pessoas.Gosto que meu texto chegue a vocês e gosto também de receber retornos de como foi esta chegada.
 

 
Blá, blá, blá, domingueiro e....."Sessentanos".


 
Foi ainda ontem à noite. Sábado à noite ainda. Uma noite jovial. Quantas noites num pequeno texto! A lua, imensa, causava escândalo ao negror do céu com a sua face de luz branca nada virginal. Que digam os amantes.



Hoje, já um dia envelhecido pelos tons plúmbeos ensombrecendo o céu. O tempo senilizou-se de ontem pra hoje. Eu também. Recordo, era ainda quase ontem quando eu andava pela Alameda Lorena de braços dados com um escritor, entoando juntos a canção do filme "Cantando na Chuva".Eu não tinha sessenta anos. Fui com ele, o escritor, ao sítio de Hilda Hilst. Creio que era em Campinas. Na noite anterior quase não dormi.Não é todo mundo nem todo dia que se vai à casa de Hilda Hilst. Muitos bichos, aparelhos espalhados pelo sítio para captar a voz dos mortos no sítio de Hilda Hilst. Eu, calada, encantada, enfeitiçada pela conversa dos dois no sítio de Hilda Hilst. Se duvidar Hilda Hilst é o meu escritor mulher brasileiro preferido.Preferida.Quando cheguei de São Paulo aqui, não havia seus livros  nas livrarias.Que ódio! Mortal.
 
Agora, eu fazendo "sessentanos",minha amiga Ana Cecília que além de professora universitária é principalmente poeta, pra me fazer um agrado, me envia por internet a obra completa de Hilda Hilst. Acreditem! Respondo que preciso melhorar da minha dor para ler o que ela me enviou. Fazer sessenta anos é tornar-se insensível  aos amigos?
 
Apenas doze anos.Eu contava.A professora de Português do colégio público distribuiu um texto intitulado "Conversa de velho com criança".Era o meu Drummond.O parceiro masculino de Hilda Hilst na minha predileção.A minha mãe me presenteou com as obras completas.Li tudo aos doze anos.Nunca mais me esqueci daquela professora que me apresentou e deixou para o resto da minha vida aquela presença cálida, tímida, mineira do arauto da bela palavra.
 
Agora, eu fazendo "sessentanos", recebo de empréstimo de uma pessoa que me quer bem um livro com a biografia de Drummond. Dias depois devolvo explicando que a minha perda visual só me permitirá ler depois que eu fizer novos óculos.Fazer sessenta anos é tornar-se insensível com aqueles que nos querem bem e reconhecem nossas predileções?
 
De ontem pra hoje, talvez sob a inspiração da lua e indiferente ao senilizar-se do tempo, sonhei que estava com uma amiga na Serra da Cantareira lendo (e enxergando muito bem) poemas de Cesar Valejo, outro escritor que adoro.Do livro aberto, cai sobre uma pedra um bilhete do meu amante com o seguinte texto:"quando você chegar em "MEU PAI É UMA JANEIREIDA",nos encontraremos e faremos amor".Folheio rapidamente o livro e feliz da vida encontro a linda frase de Cesar Valejo:"Meu pai é uma janeireida"(agora em letra minúscula).Acordo feliz e penso:"O inconsciente é atemporal".No dia 19 de junho , quem sabe, renascerei?
                                                                                                           

   Marcia Gomes.

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