Texto de 15/07/2012
"Blá, blá, blá domingueiro..." e... Entrevista de Urânia
Caros Amigos e colegas,
Sempre gostei de escrever. Muita gente fica tocada, gosta do que escrevo. Mas essa muita gente são meus amigos super íntimos. Agora, talvez por estar vivendo um momento pessoal muito rico e particular, sinto vontade de compartilhar meu texto com mais pessoas, quem sabe, fazendo novos amigos. Meio sem pensar, mandei, no fim de semana passado, para vários de vocês, um pequeno texto intitulado "Blá, blá, blá domingueiro...." e.... Entrevista com Freud". Não sei bem por que, recebi muitos retornos elogiosos, carinhosos e sensibilizados. Isso me deixou contente.
Vai que esta semana me cai na mão outra vez, outra
entrevista com psicanalista. Desta vez, com Urânia. Não tanto quanto
Freud, Urânia me tocou particularmente pela intimidade que parece ter com a
poesia. E, desta vez, com a ajuda de uma poeta e uma psicanalista que
enxergam qualidades no meu texto, comecei a pensar em escrever de vez em quando
para vocês, como uma forma modesta de veicular meus escritos, recebendo, se
vocês puderem comentários, impressões, uma palavrinha de incentivo, talvez.
Vou logo dizendo que quando escrevo me exponho
muito e isso não me inquieta, não me incomoda. É meu modo de poder ser visceral,
estar com os nervos à flor da pele. Daí saiu o que se segue desta vez.
Um abraço agradecido,
Marcia Gomes.
Estou só. Nunca estive tão só. Algumas relações antigas perigam ficar emboloradas no môfo. A minha casa é muito úmida e meu coração também. Há no meu coração umidade e abafamento. Escrever, Escrever, Escrever. Escrevivência. Trabalho besta que não dá dinheiro. Quem é maluco de se aventurar a escrever? Basta corrigir um vírgula, uma crase, e o candidato já se dá por satisfeito.
Escrever, não será como se auto -dissecar?
Suportando a dor de que o que se diz não se escreve?Escrever, Escrever, Escrever.Tomar
distância do lugar de antigamente.Sair de um lugar de antigamente me trouxe
inovações senilizantes. Emurcheci. Vincos, rugas, uma feição anêmica.Chego a ter
medo de não ser reconhecida pelo outro. Ao tempo em que não quero ser
ré-conhecida pelo outro.Do outro que sou conhecida como ré, quero um
despenhadeiro de lágrimas me separando.Dói separar.Dói se parir. Hoje escrevi a
uma amiga que está às vésperas dos trabalhos de parto. Eu também às vésperas. Me
sinto filha. Onde está minha mãe? Me sinto mãe. Onde está minha filha? Estamos
aqui nos engendrando num chôro convulso. Estamos aqui nos engendrando num riso
alvissareiro.Novos amigos, novos parentes.Poder dizer o NOME DO PAI.
Retaliações. Eu, cerzindo.
Colcha com retalhos se rearranjando. Quando criança,
brincava com boneca de pano e lhe fazia roupa de retalho.Não é muito literário,
mas me lembro de "A Lógica do Fantasma". Quero eu mesma tecer a
roupa pronta pra eu vestir. Como fazia com a minha boneca.A minha filha.A minha
filha abortada sem que pudesse ter sido concebida. "A saudade é arrumar o
quarto do filho que não nasceu" (Chico Buarque). Abortei durante anos a fio
a filha que não concebi.Retaliações.Escoriações. Viver, colecionar perdas?A
cada perda, ressignificâncias.Recontar a historinha de modo a subverter seu
final dramático. Não. Melhor parar de contar.Sair do enredo. Do "foi
assim". Não. Não foi de modo algum. É do modo que me parece necessário
conceber. Agora já posso conceber.
Sinto uma inveja edificante de Urânia.Quem a
autorizou ser versejada por Drummond? Tinha 12 anos quando dormi pela primeira
vez com Drummond.À cabeceira.Urânia,visionária, quase como se soubesse que
diante da literatura toda a psicanálise se verga em silêncio.Drummond ,"no
meio do caminho..."; psicanálise.Como diz Urânia, a poesia de cada
um. Libertar a palavra do sentido. Sair do enredo. Volatizar o significante. ATÉ
TORNAR-SE UM ENTE ALADO PLANANDO EM SIGNIFICÂNCIA ALGUMA.Dar asas ao poeta e
então....poder viver ou morrer.
Segue o endereço onde consta a entrevista de Urania Tourinho Peres para
a revista Muito http://revistamuito.atarde.uol.com.br/?p=8116
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