Texto de 02/06/2013
“Blá, blá, blá domingueiro...” e... A
tarde; perdida.
Ela já se está indo.A tarde.Há um ruído
perseverativo de um ventilador de teto com ar de rotina em cenário de livro de
escritor latino americano.Mário Vargas Lhosa? Talvez.Vejo que escrevi errado o
nome do homem.Como é? Como é? Como é? Como é me escapa entre dedos.Sangue por
entre dedos.A memória que se perde fere."Sangue de Amor
Correspondido".O nome do livro com o ventilador de teto.
O vento sibila desestabilizando o equilíbrio
psíquico dos vidros do apartamento.Por entre os vidros enlouquecidos a noite
adentra antes que nada eu pudesse dizer sobre a tarde.A tarde se foi sem que eu
nada pudesse dizer sobre ela.A vida se foi? Coisa de fenomenologia:antes que se
comece a dizer, escapa.A escrita é a tentativa frustrada de presentificar o que
já se foi.O ventilador de teto dá uma, duas, cem voltas.Sem volta.Não posso
retroceder à tarde.Não posso retroceder.O globo aceso na sala refletido no
vidro faz de conta de ser uma lua romântica me consolando de ter perdido a
tarde.Lua romântica.Amor correspondido sem sangue.E usufruir a noite porque fui
eu quem acendeu o globo quando me dei conta de que algo em mim ficou
irreversível.
Marcia Gomes.
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