sexta-feira, 2 de setembro de 2016


01/09/2016   MENSAGEM A VIRGÍLIO, A PROPÓSITO  DO GOLPE, DE SEU CONVITE DE ANIVERSÁRIO  DIFÍCIL DE EU COMPARECER, POR CONTA DA EXPERIÊNCIA TRAUMÁTICA COM A MINHA PERDA DO CARGO DE PROFESSORA  DA UFBA, E CONSEQUENTE DIFICULDADE DE RELACIONAMENTO COM OS PROFESSORES DE LÁ, OS QUAIS, COM POUQUÍSSIMAS EXCEÇÕES, COMPARO AOS SENADORES SACANAS QUE EXPULSARAM DILMA.


Olá, Virgílio,

Ontem, arrasada, escrevi a você um texto que não me pareceu feio, intitulado "CONDOR lências", que além de para você, encaminhei para amigas (os) e/ou companheiros de luta. Naquele momento, você foi a pessoa que me pareceu mais próxima. Que não deixou de me enviar, nem um dia sequer, textos para reflexão e resistência  sobre o pesadelo da saída de Dilma e todas as suas implicações. Essa sua atitude teve repercussões não só políticas, mas sobre a nossa amizade, como digo no texto. Você sabe  o quanto sou sensível, e estou muito grata a você pela  fidelidade à causa e o companheirismo. Particularmente sendo você um homem extremamente bem sucedido e ainda assim, lutador pela causa dos excluídos, desprivilegiados, o povo brasileiro.

Meu computador, idoso feito a dona, estropiado feito a dona, parece estar cheio de vírus e capengando. Muitos E-mails enviados, particularmente para o yahoo, estão retornando. Então lhe peço que confirme recebimento desta mensagem. Quero lhe pedir, e isso é extremamente importante para mim, que você envie o número da sua conta do Banco do Brasil para eu transferir os R$150,00 da dívida recente que tenho com você. Sei que muitas outras tenho, talvez impagáveis.

Por ironia, o próximo 7 de setembro, DIA  DA  INDEPENDÊNCIA  DO  BRASIL  (viva o BRASIL independente!!!  Fora TEMER!!!) é o seu aniversário. Pelo quanto tem lutado pelo povo brasileiro, ninguém melhor do que você para merecer esta data. Quero muito lhe dar um abraço nesse dia e lhe levar uma lembrancinha. A propósito, na minha nova fase de cuidar do corpo e da beleza, tenho usado muito e usufruído os presentes que você me deu de aniversário. Ana me disse que provavelmente no dia 7 vocês farão um caruru à noite. Imagino que irão seus colegas do Instituto de Psicologia. À exceção de Ilka, de quem tenho me aproximado e ficado amiga, e Maria Luiza do Patrocínio, que já se foi e que sempre que me encontrava confessava não ter entendido nada, ficado perplexa com a minha saída do Departamento, eu não me sinto bem na presença daquelas pessoas. Não consigo estar com muitas delas, não consigo ir a São Lázaro, não consigo ensinar em cursos de Psicologia. Definitivamente não tenho a tenacidade da nossa querida Dilma.

Sei que você não pode e não quer falar sobre isso. E é melhor que não falemos. Mas, em proporção milionesimamente menor, sei muito bem o que Dilma está passando, porque também, sendo uma professora honesta, ética, competente, orgulhosa de seu ofício, comprometida com os alunos, fui destituída, descartada, expulsa do meu cargo, por coincidência também por uma maioria de julgadores que na ocasião e ainda hoje posam de corretos, enxovalhando minha imagem, me colocando no lugar de desonesta e oportunista, sem sequer me darem direito à defesa. Tudo para ceder a minha vaga às pressões de uma colega que hoje bate no peito orgulhosa de votar em Aécio Neves e ACM Neto e dizer que o socialismo é uma desgraça para a humanidade.

Como bem disseram Olival e Terezinha (colega psicanalista e companheira de luta, amiga com quem converso sobre minhas questões pessoais), idiota fui eu por, por orgulho e estar me sentindo constrangida e desapontada com os colegas, ter pedido demissão, sem que sequer tenha tido direito de me defender, me explicar, dizer quais eram minhas pretensões. Sei que você prefere não falar disso, embora tenha visto o casebre onde fui morar na Vila Madalena quando me separei.

Enfim, deixemos isso pra lá. Só quero dizer que não posso comparecer ao seu caruru, mas quero lhe ver no dia 7. Quem sabe, uma horinha no fim da tarde, ou qualquer outra coisa que fique bom para nós dois. Vou compartilhar essa mensagem com Olival, Ilka, Ana Cecília (sua mulher e minha melhor amiga) Carlos Machado, Denise Coutinho, alguém a quem também quero muito bem e Anamélia Carvalho, amiga querida. Também com Ana Helena, nossa amiga íntima, companheira de luta e muito querida.
                                                                                             Um beijo com muita solidariedade pela nossa dor, a dor do povo brasileiro.
                                                                                                                             Marcia Myriam.

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