sexta-feira, 2 de setembro de 2016


11/06/2016   CARTA  A  UM AMIGO QUERIDO,  POETA COM QUEM ME AFINO NAS POSIÇÕES POLÍTICAS.


Salve, salve, querido amigo,

Vê, como estou sem tempo? Não por falta de vontade, só agora lhe respondo. Pois é, amigo, certo estava Riobaldo. "Coração de gente, o escuro, escuros". A partir do terrível GOLPE, minha vida tem mudado muito. Nada mais natural, me parece. O macro determinando o micro. Ganhei novos amigos e perdi uma grande amiga por ter contado num texto chamado "Depoimento Comovido", sobre a denúncia que fiz dentro de um cinema, de um almoço que houve na casa desta grande amiga, onde era convidada uma mestra psicanalista muito famosa no Brasil e que vem do Rio dar seminário aqui, que falou desrespeitosa comigo e outra colega de esquerda, barbaridades fascistas, fazendo uso abusivo e fora de contexto de conceitos da teoria psicanalítica.

 Denunciei no cinema, escrevi o texto, e como gosto de tentar ser coerente e arcar com o preço do que defendo e faço, mandei o texto para todas elas que estavam no almoço, inclusive para minha grande amiga, dona da casa. Resultado: minha grande ex-amiga. Mais ainda: todas as colegas que frequentam o seminário e/ou fazem análise com a tal mestra, estão me virando a cara, praticamente não me cumprimentam. Luta de classes, meu amigo. Ao fim e ao cabo serviu para eu implementar uma importante mudança na minha vida. Provavelmente abandonarei esse seminário e me inscrevi como participante do Espaço Moebius, instituição psicanalítica onde estão duas companheiras (mãe e filha) muito engajadas na luta política.

Será que você leu o "Blá, blá, blá...." intitulado "A Clareza de Clara", onde conto muitíssimo emocionada, a experiência de assistir ao filme documentário sobre Iara Iavelberg, a companheira de Lamarca, na organização de que fiz parte? Descobri no filme que o companheiro que era meu "ponto", era quem articulava os encontros de Iara e Lamarca. Sem que eu soubesse naquela época, eu estive a poucos metros de Iara. Tudo no filme me emocionou muito. No final houve um debate com uma filiada ao PCdoB que tem dois irmãos "desaparecidos" na guerrilha do Araguaia. Essa senhora me convidou para dar um depoimento no "Tortura Nunca Mais" e eu, claro, me prontifiquei. Veja se você ainda tem o texto do "Blá, blá, blá....".

No aniversário de Ana Cecília (vosso aniversário) haveria um almoço para os amigos mais íntimos. Infelizmente, foi desmarcado em cima da hora, porque ela amanheceu super gripada. Infelizmente está havendo um certo pequeno estranhamento entre eu e essa minha tão querida melhor amiga. Ana é extremamente sensível, amorosa, conciliadora e ainda, para complicar, tem os seus princípios do catolicismo. Então ela de certa forma, acha que temos que amar a todos, estejam à direita ou à esquerda, embora ela se posicione claramente contra o GOLPE e pela democracia. Eu, já sou mais implacável. Ela acha que devemos preservar os amigos independente de posições políticas e nos abster de nos posicionar em certos lugares para não angariar desafetos. Já eu sou mais passional. Vamos ver o que fazemos para não macular a nossa amizade, esta sim, super importante, inegociável.

Quanto a Eulina (Bolota), fica muito difícil para mim. A considero uma pessoa muito inteligente e capaz, mas acho que se ela, ao invés de ter orgulho, tem horror a seu passado de pobre, está se desqualificando como sujeito e deveria se submeter a uma análise, ao invés de oportunisticamente se posicionar à direita. Ao contrário do que pensa Ana Cecília, super generosa e ao meu ver, um pouco ingênua, o que talvez faça bem à sua poesia, uma pessoa como Bolota, para mim é difícil, ter como amiga, porque no meu modo ver perdeu o respeito por si própria. 

Não entendi, (pra que entender?) mas achei super bonito a sua leitora baiana, dizer ter sido por muito tempo um brinquedo de Chronos. Bom saber que tem muita gente botando a boca no trombone a respeito do Golpe. Ontem teve uma mega manifestação na Paulista, não foi? Estou atrasada na leitura do boletim, e gostaria também de estar podendo ler e opinar sobre "A Mulher de Ló". Mas tudo tem seu tempo. Faço aniversário no próximo dia 19. Apenas sairei para almoçar, com um pequeno grupo de companheiros na luta. Essa tem que continuar. Grande abraço em Maria José.
                                                                                                                          Grande abraço,
                                                                                                                         Doutora Freud                                                                                                           

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