sexta-feira, 2 de setembro de 2016


10/06/2016 MENSAGEM A SÔNIA SAMPAIO, COLEGA QUE PROVAVELMENTE ERA CHEFE OU VICE-CHEFE DO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DA UFBA, EM 1985, QUANDO DE FORMA TRAUMÁTICA, CONTRA MINHA VONTADE, MUITO DESAPONTADA COM A GRANDE MAIORIA DOS COLEGAS, ESCOLHI PEDIR DEMISSÃO DE LÁ, POR NÃO SABER ME DEFENDER E EVITAR MAIORES CONSTRANGIMENTOS PARA MIM, OS QUAIS ESTAVAM ME DEPRIMINDO MUITO.



Sônia, querida,

Tudo bem com você? Curtindo muito a linda nova netinha? Como vai sua companheira?  (desculpe, esqueci o nome dela. Afinal, faltam só 7 anos para eu completar 70 anos. Velhice chegando, amiga). Pata, você sabe que gosto muito de você, além de lhe admirar muito. Fico com a triste impressão de que houve alguma coisa ruidosa na nossa comunicação sobre a qual não podemos falar. Será?

 Falamos em nos ver, nos encontrar para papear, de eu conhecer sua companheira, etc e tal. Fiquei animada com essas possibilidades. De repente, você não deu mais sinal de vida. O que terá acontecido? Peço-lhe mil desculpas por ter lhe recomendado        como analista. A gente se engana, mesmo depois de muitos anos. Precisei fazer muitos anos de análise com ela, para finalmente compreender que não passa de uma madame preconceituosa e direitista. Às vezes, brincando comigo, você me chamava de lerda. Acho, que pra certas coisas, sou. Às vezes, embora necessário, é muito doído a gente desidealizar. É um luto, afinal de contas. Agora, felizmente, estou fazendo análise com um cara super legal. Está sendo uma guinada na minha vida, pra melhor.

Sou muito grata a você, pela solidariedade no período em que minha mãe, com a saúde muito fragilizada e poucas chances de sobrevivência, precisou se submeter a uma mastectomia. Acho, que pelas minhas questões com ela, que não estavam ainda bem resolvidas, eu fiquei muito mal. Devia estar sendo chata, repetitiva e queixosa. E você, segurou a onda. Foi aquela Sônia Pata, conhecida e querida,  de muito tempo. Obrigada.

Embora hiper, super doído, quase insuportável, estou querendo compreender o que foi realmente, o que aconteceu, que implicou na necessidade de eu, muito contra minha vontade, ter que pedir demissão do meu trabalho como professora do Departamento de Psicologia da Ufba. Nem tudo é o que parece. Nós, seres de linguagem, temos que nos ver às voltas com o que se diz e o que se entende.

 Hoje, não tenho dúvidas, que deveria ter vindo a Salvador, para aquela reunião decisiva, onde se bem me lembro, eu  pedi mais seis meses com licença sem vencimento para poder voltar, e  o Departamento negou. Não devia ter confiado que os colegas, amigos que sabiam do que se passava comigo, defenderiam meu pedido, sabendo que eu queria e precisava voltar. Parece que nem compareceram à reunião.

 Particularmente, tenho muita mágoa de   , que se hospedando em minha casa em São Paulo, para estudar na USP, morando em Piracicaba, sabia que minha relação com          estava uma merda, em vias de separação (já dormíamos há muito tempo em quartos separados) e tudo que eu queria era voltar para Salvador. Parece que o desejo de      de ocupar a minha vaga, como de fato fez, falou tão mais alto, que receio, ela possa, talvez até inconscientemente, ter escolhido adotar uma postura que talvez não tenha sido exatamente o que eu chamaria de ética. Parece, que até questões da minha vida pessoal, que pareciam ser razões para sustentar que minha séria disposição de voltar era um "blefe", foram faladas naquela reunião. Tudo, para mim, muito triste, muito feio, lamentável e como disse, insuportável.

Na verdade, a responsabilidade disso é minha. Ainda mais naquela época eu tinha muita dificuldade de me defender. Lamentável lembrar que, se não me engano, aquilo tudo aconteceu em 1985, ano em que efetivei minha separação de             , saindo de sua casa, desempregada, indo morar num casebre de fundos em São Paulo.

Por que lhe falo todas essas coisas? Você deve estar se perguntando. Afinal, parece já fazer um século que tudo isso aconteceu. A ferida doía tanto, que não tomei nenhuma providência, deixando as pessoas pensarem e dizerem tudo o que pensaram e disseram. Se não me engano, no verão daquele ano, estive aqui e fui à praia com você, Halter, Júlia e Morena ainda bem pequena. Se não me engano, você estava ocupando a chefia ou vice-chefia do Departamento junto com        , pessoa para a qual meu relacionamento com                      era um escândalo, e que possivelmente, tinha mágoa de mim, porque embora tenha me pedido, eu nada pude influenciar na sua vinda para Salvador e para a Ufba.

Me recordo claramente que eu e você conversamos longamente na praia e eu lhe falei, como amiga, do meu sério propósito de retornar no segundo semestre daquele ano, para meu emprego. Você, se não me engano, disse que falaria sobre isso no Departamento. Já se passou muito tempo. Minha vontade é esclarecer, para poder elaborar. Fazer esse luto tardio. Do que me lembro, nem Ana Cecília, nem Virgílio, e muito menos Bolota, sequer me telefonaram, sabendo, suponho, estar aquilo tudo, muito difícil para mim.

 Lembro que você teve o cuidado de me ligar. Não lembro como conversamos. Pata, não tenho seu telefone. Por isso, trato questão tão delicada por E-mail. Gostaria, se você tivesse disponibilidade, que nos encontrássemos, como amigas para conversar a respeito. Preciso elaborar esse luto. Fechar essa página. Ainda hoje, não consigo entrar sem me sentir mal,  na faculdade em São Lázaro.

 Passei por impostora, oportunista, coisas que sei que não sou com certeza. Ainda hoje, encontro muito meus ex-alunos da Ufba. Muitos se tornaram psicanalistas. Todos eles, ainda hoje, recordam da professora dedicada e competente, muito competente mesmo, que eu fui. Modéstia à parte, não tenho dúvida que a minha quase "Expulsão", foi uma grande perda para os alunos de Psicologia. Tudo isso, para mim, que sou tão sensível, foi tão traumático, que já em 2002, se não me engano, não consegui me sustentar como professora da Ruy Barbosa. Como se não merecesse ocupar este lugar. Adoeci gravemente e numa repetição de certa forma psicanalítica, tive que pedir demissão. Lá também, fui uma professora muito competente e dedicada.

Não quero me fazer de vítima. Pelo contrário, quero saber qual é a parte que me cabe neste latifúndio. Sei que tenho ainda hoje uma grave dificuldade de defender meus interesses, negociar, ser política, como se diz. Não tenho senso prático, sou muito crédula, me exponho muito, entregando de bandeja ao inimigo elementos para me atacar. Não sei fazer manipulações, nem agir na surdina. Às vezes, sendo até muito agressiva, o que não é nada hábil no campo das negociações, eu vivo abrindo  o jogo, explicitando o que se passa no meu espaço privado para quem não merece minha confiança.

 Enfim, Pata, gostaria de conversar com você sobre o processo de minha saída do Departamento. Se para elaborar esse luto, eu tiver que ir ao Instituto de Psicologia e/ou à Reitoria para acessar como tudo se passou, acho que me disporia a ir. Lhe agradeceria muito se você se dispusesse a estar comigo para conversar. Se não, compreenderei.

Quero que você saiba que vou partilhar o conteúdo desse E-mail com Ana Helena, Olival Freire Júnior, Ilka Bichara, Ana Cecília, Virgílio, Nádia Rocha, Sérgio Farias, Anamélia Carvalho, Fátima Nascimento, Elsa Kraychete. Amigos ou até mesmo inimigos, em cuja integridade confio. E se tivesse o E-mail de outros colegas de Departamento, também enviaria.

 Não envio para        , porque, embora tenha afeto por ela, às vezes indo até com ela ao cinema, não a considero  pessoa confiável. Uma das coisas que estou trabalhando na minha análise para me sentir melhor comigo mesma, é sair do lugar de bandida, que eu mesma me coloco, me expondo muito, num aferramento obsessivo ao que considero minhas verdades inegociáveis. De repente, até por ser às vezes agressiva, vejo todo mundo saindo de bonzinho e eu no lugar da megera, às vezes até, oportunista. Chega !!!  A vida já foi muito sofrida pra mim, para que eu ainda me deixe maltratar, por alguns, que sabendo se defender, sendo espertos, sabem não entregar o ouro ao bandido, para depois não ter que ficar no lugar dele.

Fico aguardando uma resposta sua. Você, provavelmente, tem recebido inúmeros E-mails meus, comentando sobre o momento político que estamos vivendo. Às vezes,  fico preocupada com seu silêncio. Gosto muito de você. Será que está tudo bem?
                                                                                                                        Um beijo,
                                                                                                                        Marcia.

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