sexta-feira, 2 de setembro de 2016

 02/09/2016   DOUTORA  CRISTIANA SANTOS,  (Filha do Doutor Roberto Santos) MULHER LÚCIDA E CORAJOSA- DEPOIMENTO SOBRE O GOLPE.  
             DOIS DIAS APÓS O VERGONHOSO 31/08/2016 , QUANDO  A MAIORIA DE CANALHAS  DO SENADO, EXPULSOU DEFINITIVAMENTE DILMA DA PRESIDÊNCIA.                                                          
Muito pouco tem a ver com militância política, posicionamentos à esquerda, supostas tentativas de fazer a cabeça de vocês, coisas que às vezes assustam ou mesmo incomodam, particularmente alguns colegas psicanalistas posicionados a favor do GOLPE ou mesmo, preferindo não saber nada disso. É um depoimento sensível da competente advogada Cristiana Santos, filha de uma tradicional família baiana, tendo como pai o honrado e muito respeitado, Doutor Roberto Santos. Peço que leiam e se quiserem, passem adiante.


Olá, amigas (os), colegas, companheiros de luta pela DEMOCRACIA,

Como vocês podem ver abaixo, a Doutora Cristiana Santos, brilhante advogada que vive em Salvador e não põe em dúvida o direito de pessoas humildes, a exemplo de filhos de empregada doméstica, usufruírem de um trabalho de análise (sou testemunha disso), nem de longe é uma comunista, muito menos filiada ao PT ou ao PCdoB , essas coisas que às vezes aterrorizam algumas pessoas que, desinformadas às vezes, temem pessoas como eu, posicionadas à esquerda, com medo de que no Brasil possa se instalar um governo socialista que retiraria seus cômodos privilégios.

 Menos ainda, Cristiana Santos é uma defensora da corrupção, nem tem uma visão sem crítica dos erros do PT. É uma mulher absolutamente honesta, competente, cumpridora de seus deveres e filha de Dr. Roberto Santos. Quem não conhece o Dr. Roberto Santos? Estou muito orgulhosa desse depoimento de Cristiana. Uma mulher sensível, inteligente e corajosa, que se respeita a ponto de se permitir pensar por sua própria cabeça. Leiam o depoimento dela sobre o que vem acontecendo no nosso país. É comovente. Vou telefonar a ela para parabenizá-la.
                                                                                                                       




Date: Thu, 1 Sep 2016 16:53:26 -0300
Subject: Vale a leitura


Queridos,
Envio-lhes uma publicação de Cristiana Santos, filha de Dr. Roberto e d. Maria Amélia, ele talvez o maior baiano vivo e ela personalidade forte e presente, nossos padrinhos de casamento. Advogada baiana, professora universitária Cristiana escreveu a peça a seguir, que pela qualidade, serenidade e seriedade com que a construiu, pensei em compartilhá-la, acreditando que nossas crenças balizam nossas atitudes e, considerando o  pensamento claro, racional e com fortes argumentos que Cristiana se utilizou, penso que talvez possamos estabelecer comunicação entre nossos universos de pensamento. 
Carinho sempre,


Hoje não é um dia feliz para nenhum brasileiro. Não pode haver o que se comemorar diante do segundo impeachment depois da redemocratização. De 1930 até 2016 tivemos apenas 4 presidentes que, tendo sido eleitos pelo voto popular, chegaram a concluir o seu mandato (Dutra, Juscelino, Fernando Henrique e Lula). Há algo errado conosco. Há algo errado com nosso sistema político.
Mas reconheço que para alguns o dia é mais triste do que para outros. Me incluo entre eles. Venho de uma geração que nasceu e viveu a adolescência no período da ditadura, e que durante a juventude, tempo de sonhos e idealismo, se encheu da esperança de estar assistindo um novo Brasil nascer a partir do processo de redemocratização.
Não sonhávamos apenas com a liberdade de expressão, de imprensa, de associação, com o direito ao voto ou com a pluralidade partidária. Sonhávamos também com um país com menos pobreza, fome, desigualdade social, corrupção. Alguns dirão que isso é "coisa de comunista". Fantasia. Vários dos países mais capitalistas do mundo são mais igualitários e republicanos do que o nosso. O capitalismo precisa, sim, de mercado consumidor, o que pede a redução das desigualdades. De outro lado, não há nada mais liberal do que ter políticas públicas que igualem as oportunidades de pessoas que nasceram em famílias que têm situações financeiras distintas, mas são iguais em suas capacidades intelectual e de trabalho, razão pela qual o Estado deve proporcionar-lhes condições de desenvolver suas potencialidades através da educação e saúde pública e gratuita. Mas não é assim que pensam nossas elites. Julgam que dar oportunidade aos que tem menos condições financeiras é tirar o lugar que seria seu por direito de nascença, em clara remissão a uma leitura de mundo "aristocrática".
Este sonho de construir um país menos desigual começou, sim, a plantar seus alicerces com o plano real. Vivíamos, então, uma inflação de mais de 80% ao mês. Ora, a inflação é a perda do poder de compra da moeda. Isso significa que uma pessoa que recebia R$ 100,00 no começo do mês, e com este dinheiro comprava 10 quilos de feijão ao custo de R$ 10,00 cada, no final do mês só conseguia comprar 2 quilos, pois a inflação havia corroído o poder de compra. Os que tinham recursos se protegiam colocando seu dinheiro em aplicações financeiras de rendimento diário que mantinha, através da correção monetária, o valor de compra, além de pagar juros. Até isso era desigual.
O real pavimentou as condições para os aumentos reais do salário mínimo. Outra ação importante foi a criação do bolsa escola. Mas o governo FHC pecou em outras questões. As universidades públicas federais foram sucateadas, pois havia um projeto de privatiza-las. Parte do patrimônio público foi privatizado a preço de banana e com muita corrupção. As desigualdades sociais eram altas, o que se via nos indicadores de saúde (mortalidade infantil, saneamento básico, etc), educação (analfabetismo, evasão escolar, acesso ao ensino superior, etc) e renda. A fome era uma realidade social. Em cidades do interior tínhamos saques de mercado em tempos de seca. O segundo governo FHC sofreu as consequências de uma grave crise econômica mundial. O desemprego era alto. Na sucessão de FHC, o PT ganhou as eleições, enchendo o país de esperança de mudança.
Nos 13 anos de governo do PT, a pauta da redução das desigualdades se fez muito mais presente. Tivemos: a) aumentos reais do salário mínimo; b) unificação dos programas de transferência de renda do governo FHC (bolsa escola, etc) no bolsa família e aumento do contingente de pessoas atendidas; C) criação de meios de expansão (novas universidades, concursos públicos para docentes, etc) e democratização do acesso ao ensino superior (PROUNI, REUNI, FIES, cotas, etc) ; d) expansão do crédito (criação do empréstimo consignado, etc); criação de políticas habitacionais; e) fortalecimento de medidas de promoção da igualdade (mulher, afrodescendentes, índios, pessoas com deficiência, LGBT, etc). f) 40 milhões de brasileiros das classes D e E a ascenderem à classe C.
Não ignoro os erros do PT. Não fez a reforma política que o país precisa; sucumbiu ao fisiologismo; aceitou alianças espúrias e sem nenhuma identidade ideológica (trabalharam com as moedas "cargos e dinheiro", o que fez nascer o mensalão); abraçaram mais o projeto de permanência no poder do que um projeto para o país e, por fim, se permitiram corromper. Com relação a estes aspectos, fizeram tudo o que combateram e o que prometeram mudar. A lava-jato tem mostrado isso.
Se penso assim, porque lamento o impeachment de Dilma? Lamento por não termos respeitado as urnas; lamento por ter visto o PSDB/DEM preferir o atalho do impeachment sem crime de responsabilidade do que o embate legítimo e legal da política e da disputa eleitoral; lamento por ver pessoas que votaram no PT e se desiludiam com a corrupção acreditarem que ao apoiar o impeachment estão ajudando a passar o país a limpo; lamento por parte da população não entender/acreditar quando apontamos que estamos diante de um golpe da direita que não corrigirá as mazelas do PT (pois em termos de fisiologismo e corrupção age igual). O FATO É QUE ESTAMOS ACEITANDO PASSIVAMENTE UM GOVERNO QUE TRAZ UMA PAUTA DE AÇÕES QUE JAMAIS SERIA REFERENDADA PELO VOTO POPULAR. Estamos (enquanto nação) enterrando nossos ideais de redução das desigualdades através de políticas públicas implementadas pelo Estado para dar uma guinada de 180 graus, representada por um governo mais de direita do que o de FHC foi. Isso é, na minha ótica, muito mais grave do que gostar ou não de Dilma ou do PT.
Lamento, e muito, que parte da população só vá entender o que está acontecendo quando: a) o SUS "reduzir" de tamanho afetando a população mais pobre e piorando as condições de trabalho dos médicos; b) para criar um plano de saúde "para pobres" que só atenda algumas doenças, o Congresso alterar a Lei de Planos de Saúde, estendendo essa possibilidade a todos os planos, inclusive os da classe média e da elite, que ficará dividida entre pagar mais caro do que paga ou migrar para o SUS; C) o ensino superior privado vier a ser mais apoiado do que já é, em detrimento das universidades públicas; d) a precarização das relações de emprego se aprofundar pela implementação do "combinado sobre o legislado"; e) nossa geração sofrer os impactos da reforma da previdência, embora já esteja no mercado de trabalho há mais de 20 anos; f) a recessão e a redução da teia de proteção social formar um barril de pólvora para a segurança pública, impactando na integridade de cada um de nós; g) ficar evidenciando que Temer também terá dificuldades de impor um ajuste fiscal que nos faça sair da crise porque ela tem sim, um componente externo (abrangência mundial) h) a proibição de aumento de gastos públicos por 20 anos nos levar a uma significativa redução do Estado, com impactos na saúde, educação e políticas sociais; i) a corrupção continuar na agenda do dia, pois parte do meio político (em TODOS os partidos) se alimenta dela.
O governo Temer começou hoje . E isso significa que a oposição e o fogo amigo do PSDB/DEM, que não querem que ele chegue forte a 2018 também. Com pouco tempo de gestão, uma agenda impopular e uma base parlamentar fisiológica os desgastes virão, e a "paixão" irá sucumbir à realidade. Vamos aguardar. Até lá, a centro esquerda e a esquerda precisam se renovar em termos de ideias e práticas, de modo a não cometer os mesmos erros, para que possamos continuar trabalhando para construir um mundo mais justo e igual.
PS - a Vice- Procuradora Geral da República declarou que Temer está sendo objeto de delação na lava-jato. Será que vão pedir o impeachment dele? Ou o horror à corrupção só vale contra o PT.
Desculpem se me estendi .  CRISTIANA  SANTOS.

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