sábado, 3 de setembro de 2016


Subject: "Blá, blá, blá domingueiro...." e.... Mintocó.
Date: Mon, 11 Jul 2016 03:53:10 +0000


Preâmbulos: Orquídea, rito, repolho, 1959, ladrilhos. Cadeia borromeana. Malha, tecido, teia. Aranha tecedeira, embaralho palavras e as deformo com minhas lágrimas, querendo transformá-las em meros efeitos fônicos. " Love is a many splendour thing". Quem não conhece essa canção? Meu Inglês está atrofiado, mas não a ponto dela esquecer. Suplício de uma saudade. Quem não conhece esse filme? Se não fosse o suplício de uma saudade, ou seu prenúncio, diria que tive uma ótima semana. Quem sabe até feliz? Será a saudade um fenômeno atrelado à geografia que os tempos internéticos não dão conta? Ou atrelado à passagem do tempo? Se não respondo, fico sem saber de quem estou com saudade.

 Sonhei com palavras. Mas isso não é para contar aqui. Passei o fim de semana todo em casa, trocando palavras, literalmente. Uma palavra em troca da outra. Faz todo o sentido trocar "Sagrada Família" por 1959. Aí o milagre se dá de passar um fim de semana em troca. Conversa muito cifrada, não é? Depende de quem ouve. Depende do que houve. Depende de quem houve. Houve alguém.

 Também houve outro alguém.Outro alguém que não sabendo que costumo não trabalhar às sextas-feiras, mandou deixar no meu consultório um lindo vaso de orquídeas amarelas sem nome do remetente, exatamente na sexta. Por acaso eu estava lá e trouxe o vaso pra casa. Que sorte!! Orquídea, de erotismo tão delicado, correr o risco de encontrar porta fechada? Não se fecha a porta a erotismo tão delicado. A menos que se seja uma histérica com um pai do tamanho de um avião. Melhor não seria transformá-lo num mero aeromodelo, e assim poder descobrir quem foi o remetente?

 Êpa, essa conversa está muito ex-pirada. Eu também. Ex-pirada graças à cadeia borromeana. Também ao sonho. Então falemos de felicidade. Nisso não acredito. Melhor feliz cidade. Minha Paulicéia. Se depender da cadeia borromeana, logo, logo, vou lá. Pois é. Estou saudável como uma égua. Por falar em égua, será que não vou dar trégua ao erotismo? Tem algo mais cioso do que uma égua? Fiz milhares exames médicos e estou super saudável. Todas as taxas norrmalíssimas. Não sou mais diabética. Minha hemoglobina glicada, que mede a glicemia nos últimos quatro meses está totalmente normal. Não tomo mais insulina, nem remédio de estômago. Só um anti ácido de vez em quando quando carrego nas tintas. Tenho preferido carregar nas tintas da maquiagem, desobedecendo ao pai.

 Não sendo mais diabética, chupo muita bala de mel e como brigadeiro. Estou uma chupadeira. Ganhei de uma pessoa um pirulito de mel. Chupei. Êpa, que oralidade é essa? Será não ter com quem falar? Será não ter com quem felar? Êpa, confundir falação com felação é meio topológico, né não? Parece que perdi o freio da língua. Parece que tudo falo. Parece que tudo é falo? Sendo eu mulher, nem tudo. Não toda. Estou emagrecendo comendo brigadeiro e sem estar doente. Ah, cadeia danada!! Parece que estou encadeada. Vejam bem, não é cadeado de cinto de castidade. Será que já cheguei na casta idade? Quando se trata de cadeia, não tem idade, só tem sujeito.

Gente, aconteceu a FLIP em homenagem a Ana Cristina Cézar. Por que poesia tem que rimar com melancolia? Por que Ana não preferiu ficar no insucesso do ato de fazer poesia e poder aparecer ao vivo na Flip? O que vou fazer na Flip se Ana passou ao ato? Não vejo graça em brincar com esse fato. Melhor embaralhar palavras, deformá-las com muitas lágrimas e muito entristecer porque Ana não teve chance de experimentar a cadeia. Palavra é um barato. Custou muito caro a Ana.

 Às vezes custa caro. Felizmente a cadeia é generosa. Que diabo de cadeia é essa cheia de bons atributos? Não é bem assim. É só porque não dá pra ver o avesso e o direito. É um mero artifício. Arte e ofício. Ofício, sina, oficina.Sou chegada a um porteiro da noite. Isso não é um nome de um filme? Um negócio de uma relação sado-masoquista entre torturador e uma torturada. Êpa, não é nada disso. Lembram do Sr. Josenilton, o filósofo, e o seu lindo discurso sobre Ariano Suassuna? É o porteiro da noite de lá do meu trabalho. Nunca lamentei tanto parecer acometida de algo como Mal de Alzheimer. Não é que perdi o conto do Sr. Josenilton? Ele escreveu um conto e me deu pra ler. Eu perdi o conto. Não consigo achar em lugar algum aqui em casa.

. Pior do que isso é a cadeia dar por desaparecida a história de perdidos retornos. Cadeia toma tudo ao pé da letra. Trabalha com a Letra. E eu que me estrepe com a história perdida que não retorna. E agora, o que vou dizer ao Sr. Josenilton? Ele não sabe o que é lapso, muito menos Mal de Alzheimer.

 Tem também o Sr. Reginaldo. O porteiro da noite do prédio onde moro. Será que vai rolar história de outra coisa perdida? Pior que vai. Psicanalista tem mania de falar em perda. Se vocês souberem o que perdi....Como não tem avesso nem direito, uma perda pode ser um ganho. Minha gente, foi como ganhar na Mega-Sena. Que o que? Tem dinheiro que compre sensibilidade? Mas vou guardar a surpresa para o final. Primeiro preciso contar que continuo ganhando presentes de aniversário. Até parece que está escrito na testa que estou virando do avesso. Felizmente é só um artifício. Só uma questão de por onde a formiga está andando.

 Um amigo querido me deu creme de cupuaçu para passar no corpo. Será afrodisíaco? Minha melhor amiga me deu um livro de meu amado valter hugo mãe. É. Nome próprio em letra minúscula. Nem conto a vocês o desaforo que me fizeram com esse assunto de nome próprio. Será que o valter, com essa letra minúscula, tem alguma questão com o tamanho do pinto? Não importa. Seu pinto não me interessa. Me interessa que a dedicatória da minha melhor amiga é linda e a capa do livro é um arraso de beleza. Quando digo que está escrito na testa que estou curtindo beleza...

 Já contei pra vocês que tenho um modo marciano de ler? Primeiro eu ouço o livro. Me ligo na arrumação sonora das palavras. Depois cuido do enredo. Quando me autorizei psicanalista, já quase aos 50 anos, fiquei me cagando de medo de morrer sem ter ouvido toda a obra de Lacan. Então, cada semana, pegava um seminário emprestado e devolvia na outra. A pessoa que me emprestava ficava pirada. "Você leu um seminário de uma semana pra outra?" Eu sou maluca mas não a ponto de dizer que ouço livro. Então respondia como quem não quer nada: "Não, foi só para fazer uma leitura dinâmica." Ouvi quase todos.

 Duas amigas queridas me deram um sapato preto. Não é que eu estava precisando de um sapato e preto? Êpa, lá vem o erotismo. Sapato lembra fetiche e fetiche lembra André Gide. Já houve tempo que adorei ler esse cara. "Os Frutos da Terra". Será esse o nome? Muito lindo.

 E.... a história está chegando no fim. Preciso preparar um ápice. Êpa, não tem uma história de que chegar ao orgasmo é chegar ao ápice? Imaginem! "Chegou ao ápice, meu bem?" Totalmente broxante pra quem gosta de palavras. Nesse eu não chego, nem com um parceiro que não seja essa coca-cola toda. Porque se for coca-cola, coisa que adoro, admiro, respeito, aí então não chego com ápice ou sem ápice. Saio correndo Ladeira da Barra abaixo. 

Chega de confidências. Vamos à história linda, maravilhosa. Ganhei de uma pessoa que me conhece até virada do avesso porque tem um sensibilímetro, adivinhem!!! Isso mesmo. A obra completa dos contos de Clarice Lispector. Quase desmaio. Cheguei no Espaço Moebius com esse livro na mão me sentindo uma rainha. Quando eu pensava em chegar em casa e ler "Amor", quase fazia xixi nas calças de tanta felicidade. Pois é. Cheguei tarde e cansada em casa.

 Dia seguinte, levei o livro para o consultório. Pensei que levei.  Mal de Alzheimer, medo de ser feliz, auto-punição porque desejo o homem que amo, a puta que pariu. Esqueci o livro no táxi. Não tenho a menor inteligência para coisas práticas.  E cadê Jovita, pra me dizer o que fazer? Entrei em pânico. PÂNICO. Entrei na lanchonete do meu consultório arrasada. Contei o ocorrido a meu amigo Gilmar que fez as vezes de Jovita: "Dra. Marcia, não foi o teletáxi? Ligue pra lá depressa, diga que horas pegou o táxi, qual foi o destino." Viva a inteligência dos menos favorecidos. Não deu outra. Localizaram o motorista, que só então lembrei que é meu amigo, e ele disse que achou, estava próximo de minha casa e levaria lá, entregando ao porteiro. Ufa!!! Será que atendi direito meus pacientes? Não sei não.

Cheguei em casa ofegante. Minha gente, ser sensível é o maior de todos os baratos. Mesmo porque, como a poesia, não custa nada. Por isso, estou cagando e andando pra quem repara na pobreza de minha casa e diz que prefere não voltar aqui. Estou cagando e andando para quem dá desculpa para não me visitar. Quando o Sr. Reginaldo me avistou no portão, abriu um sorriso largo: "adivinhe o que tem aqui para a senhora?" Então pensei: "o motorista contou o caso a ele". Era muito, mas muito melhor que isso, muito!!  Sr. Reginaldo me entregou o livro e disse: (já comecei a chorar) "Dona Marcia, Clarice Lispector!! Quando vi esse nome nesse livro, liguei logo para minha filha, na maior alegria. É que no domingo passado eu e ela assistimos (pasmem!!) no canal Arte 1 um programa com Chico, Caetano, Betânia, em homenagem a essa escritora e ficamos com muita vontade de conhecê-la. Já liguei pra minha filha dizendo a ela que tenho esse livro da senhora na mão."

 O porteiro da noite. Que coisa linda!!! Nem consegui disfarçar o choro. Somente disse:" Sr. Reginaldo, muito obrigada!! O senhor é um homem muito especial e está me dando um presente mais bonito do que este livro. Quando eu acabar de ler vou emprestar ao senhor e à sua filha. "  Ele respondeu: "Não, é melhor não, Dona Marcia, a síndica pode não gostar". Aos prantos, respondi: "a gente enfrenta a síndica." Ao que ele disse, emocionado: "Não chore não, Dona Marcia, o livro já está em suas mãos". Eu malucamente, como se  fosse Clarice, respondi : "Eu estou chorando porque o senhor parece um cego mascando chiclete". Ele me olhou, perplexo. Eu respondi: "Esse é o assunto de um conto dela que se chama "AMOR". Ele, sorrindo: "Ah, esse eu vou querer ler. Aceito que a senhora me empreste".

Pelo avançado da hora, vejo que já é segunda-feira e só agora acabo de escrever o "Blá, blá, blá.... " e nem contei a vocês quem é Mintocó. É uma personagem de ficção. Fica para o próximo domingo. Agora estou com mania de deixar vocês no suspense. Quando vou poder deixar de contar histórias autobiográficas? Mas essa foi linda, não foi não?
                                                                                            Marcia Myriam Gomes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário